Este é um plano que eu quero concretizar a breve trecho. Faltam-me só acertar alguns pormenores de somenos importância, nomeadamente ter a verba suficiente para a aquisição e depois para as obras de siamesação (inventei, porquê?) e, mais tarde, convencê-la a abandonar a casa onde vive, a bem ou a mal. Eu preferia a primeira, porque eu sou pelo bem. Mas já tenho tudo pensado, caso ela insista em manter-se na casa que é dela por enquanto. Na verdade, tenho a vida facilitada, já que ela tem uma filha que grita desalmadamente sempre que está acordada, o que acontece para aí dezoito horas por dia. Passo a chamar a autoridade. Ela (mãe) há-de-se cansar. Também posso fazer ruídos a desoras. Posso dar festas de arromba, com o argumento que depois de velha é que me deu para parva. E paro à meia-noite, só para não dar aso a falatórios.
Hoje não aguentei mais de expectativa e bati-lhe à porta.
- Quem é?
- A vizinha!
Ela abriu em fato de treino. Ai que giro, às vezes parece-me que moro num daqueles bairros tipo Massamá (isso é cidade, vila, aldeia...? Who cares?). Perguntou-me se queria entrar, mas só depois de passar a primeira barreira, que era um tapete de plástico que tem à entrada, a partir do qual todas as pessoas que entram em casa têm que se descalçar. Ela estava calçada, fora do tapetinho, a batoteira. Como temi que houvesse um tapete mais adiante que me obrigasse a tirar mais alguma peça de roupa, estaquei ali, com a desculpa que não me ia demorar. E dei comigo a perguntar-lhe, de chofre, se quer vender a casa dela. Tenho que tratar este pequeno Tourette. Ela disse que não.
Ainda assim, espreitei de cima do tapetinho de plástico e a casa é roxa. Não, não é lilás, é roxa. E ela, contente, apontou para a única obra que fizeram lá dentro, que foi "o escritório" - uma estante a meio do corredor, naturalmente sem luz natural, onde está um computador, é "o escritório".
Vim de lá com uma vontade acrescida de alugar a Marlene Dietrich e partir aquilo tudo, salta "o escritório", saltam as paredes roxas, só parava mesmo na casa da velha do saco do El Corte Inglès, que com essa não me meto eu. Ela tem poderes.
Eu quero um escritório desses, não parece ter grande arrumação. Mas deve poupar espaço!
ResponderEliminarTem arrumação, tem. Acho que é a estante mais conhecida do IKEA, mas com um espaço a meio para o computador, e uma cadeira em frente. Só que ela foi escolher o canto mais escuro da casa, a sinistra... urge expulsá-la!
EliminarUrge! Tem que sair!
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