19/05/2020

Dica # 12

Estou exangue.
Sempre ouvi dizer que as cozinheiras não dão uma receita completa/ correcta. Está visto que não sou cozinheira, porque as dou tal e qual e ainda ensino truques de magia. Senão, vejamos adiante.
Não sei como é que vocês fazem a mousse de manga, mas eu fazia até há dias da forma ensinada por uma cozinheira profissional: uma lata de polpa de manga (das pequenas), uma lata de leite condensado, um pacote de natas e uma folha de gelatina. Até parece que ainda estou a ver-lhe a cara estanhada quando disse "gelatina". Seguiu-se o profícuo diálogo, "Gelatina?". "Gelatina". E foram anos disto, uma briga com a gelatina em placas, coisa ou impossível de desfazer (tentei tudo, desde a água quente - em que ela se desfazia mesmo, mas depois via-me e desejava-me para perceber o que é que era água e o que é que era gelatina, liquidificando-me a mousse toda -, até ao martelo-pilão - hah, estou a gozar), outra briga com a gelatina em pó, que eu deitava lá para a mistela e não acontecia nada, mas é que nada, mais ou menos como se pusesse pó dos móveis na receita. Por conta da teimosia nas placas de gelatina, foram anos e hordas de gente a apreciar assaz a minha mousse de manga, porém a encontrar pedaços de cartilagem lá pelo meio, mais ou menos como acontece quando degustamos uma boa orelha de porco temperada de azeite, cebola, alho e coentros (ai, que eu não como carne). Inês, a cozinheira protagonista desta bela prosa, também não me disse que as natas deviam ser batidas em chantilly, mas a essa conclusão cheguei na primeira abordagem à mousse, por uma questão de instinto. Instinto esse, que não me valeu de nada relativamente à gelatina.
[As natas têm que ser frescas, tipo “Longa Vida”*. Quaisquer outras, ainda que diga na embalagem “natas para bater”, permanecem eternamente qual copo de leite, fora a espirradeira com que nos brindam, a nós e à casa toda.) (A sério que tenho uma amiga que conseguiu atingir o tecto da cozinha com umas natas dessas que não saem jamais do estado líquido.) Caso tenham alguma dificuldade - difícil, mas possível - em espessar as natas, mandem-lhe com uma pitada de sal grosso. Ou chantifix.]
Entretanto, deu-se que estava no lar, tinha todos os ingredientes para a mousse menos a p. da gelatina, e então olhem, fi-la assim mesmo. Tipo aquelas máquinas que funcionam maravilhosamente com uma peça a menos. E a mousse saiu excelente, cremosa e espessa, parece mesmo espuma de barbear, mas em amarelinho.
Isto, de duas, uma: ou a criatura é exímia na arte de desfazer gelatina e deu-me a receita certa, ou eu sou muito crédula e a luminária só me chega vários anos depois de me fazerem a velhacaria.

* NMPPI


2 comentários:

  1. As placas de gelatina: devem ser cortadas ao meio, mergulhadas em água fria, ao fim uns minutos (já deverão estar moles) escorrem-se apertando-as bem na mão e derretem-se. Derretem muito rápido (eu não uso microondas, uso um púcaro no boca do fogão). Mal estejam liquidas, juntam-se ao preparado que for, e que deve ser batido/mexido de imediato.

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    1. Obrigada, Helena. Mas, neste caso, lá está: toda uma logística que pode evitar-se, simplesmente não pondo a gelatina :)

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