09/02/2019

O homem é violento, ou o Homem é violento?

Ando aqui há coisa de uma semana a tentar perceber a mensagem jornalística, a propósito do encadeado de infanticidas que, de repente, nos saltam olhos adentro, e só consigo fazer esta leitura: um homem mata a filha pequena - provavelmente sabendo que iria dar a provar uma provação muito maior à mãe da criança do que se matasse a própria -, o homem é mau. Isto é um incontestável. 
[Já morreram nove mulheres vítimas de violência doméstica, só este ano, e só estamos no segundo mês do ano. A décima só ainda não calhou, mas provavelmente acontecerá antes de o mês acabar.]
[Nove mulheres em quarenta dias, são oitenta e duas mulheres em trezentos e sessenta e cinco dias.]
Nos dias seguintes, povoam as notícias a libertação de Leonor Cipriano, a mulher que, há quinze anos, matou a filha de oito anos e deu o cadáver aos porcos, a audição das gémeas que mataram a recém-nascida de uma delas, a captura da mulher que matou o seu recém-nascido há um ano.
Ora, é óbvio que se trata de coincidências: a primeira não foi libertada agora para fazer jeito aos noticiários, e sim porque cumpriu a maior parte da pena a que foi condenada; as duas irmãs foram ouvidas pelo juiz porque era essa a data marcada para a diligência, com a antecedência que todos sabemos existir; a última não foi capturada agora porque calhou, e sim porque a investigação sobre o seu paradeiro chegou a um ponto óptimo. 
Ainda assim, encanita-me esta subreptícia ideia que, involuntariamente, me assalta, que é: o homem é mau, mas também há mulheres más. Sim, é verdade, todos o sabemos, assim como sabemos que, infelizmente, este tipo de crimes sobre as crianças vai continuar a acontecer enquanto o mundo for mundo e imundo. 
Ou seja, os homens - aqueles homens - são maus; as mulheres - aquelas mulheres - são más. A questão é que aquelas mulheres más não são as mesmas que morrem às mãos daqueles homens maus. No entanto, enquanto passar  a ideia de que "elas têm o que merecem", a este ritmo, facilmente chegaremos ao Natal com as oitenta e duas mortas na estatística.



LB's challenge rumo aos 3000 chouriços em 6 anos
Assunto demasiado sério para que o considere um "chouriço".
mas #jasofaltam26namesma

6 comentários:

  1. O Homem é mau.
    Frequentemente o homem tem mais poder (físico, económico, social) que a mulher. Tal torna-o mais violento mas a maldade é comum aos dois sexos.

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    1. E também tem em cima séculos de educação judaico-cristã, em que se julga proprietário da mulher, sobretudo daquela que não o quer.

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  2. Custa-me muito o assunto violencia domestica. Os meus pais nasceram e viveram numa aldeia, e era muito visivel (e socialmente aceite) a violencia domestica em muitas casas que eu frequentei na minha infancia. Eu cresci, eu eduquei-me, eu entrei do seculo XXI, e esqueco-me que nem toda a gente teve a mesma oportunidade financeira, nem uns pais apoiantes do conhecimento e com visao do futuro. Eu sou muito mais do que os meus pais algum dia foram, so porque eles tiveram a visao de me dotar com todas as ferramentas para que eu fosse mais. Muitos ainda vivem na escuridao medieval, na mesquinhez e maldade, em que se descarrega a frustracao e negatividade nos mais proximos, nos vulneraveis, nos que nao sabem ou podem se defender. Mulheres e criancas.

    Custa-me muito este assunto. Muito.

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    1. Desculpa, AEnima, por alguma tristeza que possa ter-te causado. Quando escrevemos e publicamos, nunca sabemos onde e a quem vamos acertar.
      Sinceramente, estou convencida que são situações ligadas a uma qualquer forma (e elas são infinitas) de doença mental (que até pode ter origem nos maus tratos durante a própria infância do violentador), ou então vício (sobretudo álcool). Soluções, não há, ou não se arranjam. De qualquer modo, a vida dessas mulheres não tem tempo para esperar que os homens se tratem. É muito triste, sim.
      Um beijinho para ti

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  3. Ola Linda,

    Nao te preocupes. Nao me causaste uma tristeza maior que outra qualquer. Eu nunca fui vitima de violencia domestica nem nenhuma das pessoas mais queridas, mas vi acontecer a algumas mulheres, e vi esconder muita coisa. Era crianca, muita coisa me passou ao lado.

    Acho que tens toda a razao, que violencia, seja ela contra quem for, em adulto, e' doenca mental. Tambem nao compreendo como os pais batem nos filhos, uns seres tao indefesos, tao dependentes.

    E' um assunto me me entristece muito, saber que existe tal maldade no mundo. E tao perto de nos 'as vezes.

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    1. Mas eu percebi que não foi algo que tenhas vivenciado, felizmente, AEnima.
      Durante muito tempo, pensei que fosse uma questão endémica, “regional”, “cultural”, de “homem que é homem”, confinado a uma época e a uns lugares (rurais, nomeadamente), porque também conhecia casos, e todos com essas características. Mas depois soube que é um problema transversal às cidades, aldeias, gente mais e menos cultivada. Sempre gente doente, disso estou certa...

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