Foi a primeira vez que usei a aplicação da Emel, e mais valia ter sido a última, que me deu uma daquelas sortes que valem um mínimo de 60 pacas, mas ao contrário, em que és tu - no caso, eu - que pagas.
A desculpa é sempre a mesma: muitas tarefinhas somadas, muitos horários para cumprir, muita coisa ao mesmo tempo, a acrescentar a outras preocupações e tristezas várias. Pode ser cansaço, pode ser só a falta de sol, pode ser o desânimo próprio do Outono (leram bem), mas a verdade é que não vi o sinal que indicava o lugar de estacionamento destinado a pessoas com mobilidade reduzida. Logo eu, que tenho o maior respeito por quem teve menos sorte que a maioria, que sigo a máxima "sabes como nasces, mas não sabes como morres", de entre outras filosofias de vida que me demovem de deixar o carro nesses lugares (medo da multa, por exemplo). Mas, naquele dia, deixei. Estava parada num semáforo, andava à procura de sítio para deixar o carro numa zona impossível (vermelha), olhei para trás e vi aquele oásis. Tão inocente estava esta criminosa, que até paguei o parquímetro e tudo. E lá fui à minha vida, descansada dela.
Vai na volta e tinha lá o envelope vermelho, que assim à primeira vista parecia uma carta de amor, aquelas que já ninguém escreve e que são ridículas. Afinal, era a notícia de infracção derivada da distracção. (Ainda acabo poeta popular, eu.)
Com alguma demora - cerca de um mês - lá meti sandalinhas ao caminho e dirigi-me à Loja do Cidadão, aquele local heterogéneo em que o povo se exalta amiúde, e que mata umas estranhas saudades do Arquivo de Identificação Civil e Criminal de Lisboa, que eu ainda sou desse tempo.
Chego lá, toda eu munida de documentos, o rapazola chama-me com um sinal de cabeça, à laia de engate (parece que "o sistema" tinha ido abaixo), e eu apresento-me, dizendo apenas a verdade, somente a verdade e nada mais do que a verdade: que vou ali pagar uma multa. Sento-me no banco na cadeira dos réus, mas está tão quente da peida anterior, que me levanto logo e reclamo da falta de comodidades da dita. Vai ele e pede-me para verificar os documentos, e eu dou-lhe o papelote identificativo de Rosinha (que dantes se chamava livrete, mas agora não me apeteceu escrever a palavra documento outra vez). Pede-me a carta de condução e pergunto-lhe se é para me aplicar outra multa (há-de ter-se sentido investido numa autoridade que não tem, já vamos ver porquê), desta vez por condução sem carta. Diz que não, mas também não esclarece que não tem poderes para tanto. Pede-me, então, o cartão de cidadona, diz que para identificar o condutor, e eu já arrependida de não ter levado comigo uma dessas pessoas que têm carta mas não conduzem. (Esse serviço até no OLX se deve vender, e por menos de 60 europeus.)
Emite-me a nota de culpa, eu assino tudo, se não de cruz, pelo menos de olhos vendados (oh pá, metaforicamente, não é?), e ele avisa-me que terei, como pena acessória, menos dois pontos na carta, durante dois anos. Fico cabisbaixa, a simular o semblante do recém-condenado, mas tal deve-se sobretudo à ignorância dele. No entanto, cumpro o meu papel até ao fim e à risca: quando me pergunta se me tenho portado bem (no trânsito?), respondo: Lindamente. Claro que não lhe revelo a minha pequena irreverência diária (uma contramãozinha num parque de uma grande superfície, um amarelo que se me abre a dois metros de passar o semáforo e me grita "passa-me, se fores mulher!", uns 60 km/h na cidade. Mas quem não, que atire a primeira pedra. (Pronto, parou. Esta parte era só a brincar.)
Até parte um homem todo. Multas ?... é tudo a gamar. Sempre a gamar !!!! Falta de pachorra. Lx cada vez pior.Comigo n ganho para parquímetros.
ResponderEliminarÉ um stress constante, só falta termos que andar a calmantes.
EliminarEscreves bem :)
ResponderEliminarObrigada, C :)
EliminarMas exageras bem :)