- Hohem hão hahou a hua hon-ha.
Existe uma pessoa que trabalha num espaço comercial junto da minha área de residência que fala assim: das vinte e duas letras do alfabeto (eu conto com o K, o X e o Y, porque sou moderna), diz apenas as vogais, ou seja, suprimiu da sua linguagem verbal (a escrita não lhe conheço, portanto dou de barato) nada mais, nada menos do que dezassete letras, se é que a matemática agora não me falha também. Algumas sílabas, entoa-as com uma única consoante, mas não a correcta para entremear as vogais correspondentes, fazendo recurso constante do H, não aspirado como o dos ingleses, mas expirado como só ela.
Nem imagino se fosse ao contrário, e tivesse suprimido as vogais.
Nem imagino como dirá palavrões.
Nem imagino quando se constipa, e não consegue expirar o H.
Assim, por exemplo, se quiser dizer Existe uma pessoa que trabalha num espaço comercial junto da minha área de residência que fala assim, diz Eihihe hua hehoa he ha-aia hum ehaho huhehial huho ha hiha áhea he hehihêhia he haha ahim.
E não é que se faz entender perfeitamente?
Sempre, menos desta vez. Criou-se, finalmente, uma barreira linguística entre ela e eu, fascinada que ficava sempre a ouvi-la falar sem consoantes e muitos HH.
Isto é um suponhamos: entro lá no local, acerco-me do expositor frigorífico onde ela labora, e preparo-me para desbobinar alface-abóbora-cenouras-couve-flor-nabo, mais ou menos por esta ordem aleatória, e vai ela assim para mim, naquilo que eu entendi:
- Ontem não pagou a sua conta.
Ó pá, esqueci-me. Mas também era escusado aquele mau modo, à frente de toda a gente. Parecia que eu tinha feito de propósito. Passei por caloteira, e, puxa!, magoei.
- Oi? — Respondi no meu melhor português. E depois girou-me a seguinte frase na cabeça: "Hoha, há! Henho ahi a ehha eh-hehun-ha há hinhe e huaho ahos, hunha heihei ahi hehuha hon-ha hoh hahah e hohe, huhe he eh-hehi uha húhiha hez, hazem-he hoho hahah hoh hahoheiha". Mas travei-me, traduzi-me mentalmente e proferi: "[Porra, pá!] Venho aqui [a esta espelunca] há vinte e quatro anos, nunca deixei uma conta para pagar e só hoje, porque me esqueci uma única vez, fazem-me logo passar por caloteira".
A comunicação entre nós bloqueou naquele momento, por assumida incapacidade minha para perceber o azedume, especialmente provindo de alguém que sempre tratei bem.
Acho que nunca mais nos vamos entender, ehá hihto.
Existe uma pessoa que trabalha num espaço comercial junto da minha área de residência que fala assim: das vinte e duas letras do alfabeto (eu conto com o K, o X e o Y, porque sou moderna), diz apenas as vogais, ou seja, suprimiu da sua linguagem verbal (a escrita não lhe conheço, portanto dou de barato) nada mais, nada menos do que dezassete letras, se é que a matemática agora não me falha também. Algumas sílabas, entoa-as com uma única consoante, mas não a correcta para entremear as vogais correspondentes, fazendo recurso constante do H, não aspirado como o dos ingleses, mas expirado como só ela.
Nem imagino se fosse ao contrário, e tivesse suprimido as vogais.
Nem imagino como dirá palavrões.
Nem imagino quando se constipa, e não consegue expirar o H.
Assim, por exemplo, se quiser dizer Existe uma pessoa que trabalha num espaço comercial junto da minha área de residência que fala assim, diz Eihihe hua hehoa he ha-aia hum ehaho huhehial huho ha hiha áhea he hehihêhia he haha ahim.
E não é que se faz entender perfeitamente?
Sempre, menos desta vez. Criou-se, finalmente, uma barreira linguística entre ela e eu, fascinada que ficava sempre a ouvi-la falar sem consoantes e muitos HH.
Isto é um suponhamos: entro lá no local, acerco-me do expositor frigorífico onde ela labora, e preparo-me para desbobinar alface-abóbora-cenouras-couve-flor-nabo, mais ou menos por esta ordem aleatória, e vai ela assim para mim, naquilo que eu entendi:
- Ontem não pagou a sua conta.
Ó pá, esqueci-me. Mas também era escusado aquele mau modo, à frente de toda a gente. Parecia que eu tinha feito de propósito. Passei por caloteira, e, puxa!, magoei.
- Oi? — Respondi no meu melhor português. E depois girou-me a seguinte frase na cabeça: "Hoha, há! Henho ahi a ehha eh-hehun-ha há hinhe e huaho ahos, hunha heihei ahi hehuha hon-ha hoh hahah e hohe, huhe he eh-hehi uha húhiha hez, hazem-he hoho hahah hoh hahoheiha". Mas travei-me, traduzi-me mentalmente e proferi: "[Porra, pá!] Venho aqui [a esta espelunca] há vinte e quatro anos, nunca deixei uma conta para pagar e só hoje, porque me esqueci uma única vez, fazem-me logo passar por caloteira".
A comunicação entre nós bloqueou naquele momento, por assumida incapacidade minha para perceber o azedume, especialmente provindo de alguém que sempre tratei bem.
Acho que nunca mais nos vamos entender, ehá hihto.
Assim como tu tens dificuldade em perceber a Sra, provavelmente os restantes visitantes do estabelecimento nem sequer ouviram ou perceberam o que ela disse em voz alta, ou seja, adiante.
ResponderEliminarNesse contexto, desvaloriza a opinião dos outros.
Uma vez que és cliente habitual, não será um único esquecimento que fará de ti caloteira.
Isso também me preocupa, mas muito mais que alguém se dê ao desplante de me tratar mal, lá porque nesse dia está com o ovo virado lá com a sua vida. Eu nunca faço isso com ninguém, não gosto que me façam.
EliminarTambém, vale o que vale: nem me preocupei mais com quem assistiu, nem com ela. Amor com amor se paga :)
ResponderEliminarUma vez numa pastelaria onde vou há pelo menos vinte anos não paguei o croissant do lanche da minha filha. No dia seguinte, paguei. Dois dias depois, quando ia pagar o croissant desse dia a empregada diz-me "come um mas paga dois porque no outro dia não pagou" Tive vontade de lhe bater e de me enfiar pelo chão abaixo ao mesmo tempo. Só lá voltei porque gostava dos donos da pastelaria ( e os croissants erma muito bons)
A sério, a essa gente devia cair um dente por cada bordoada.
EliminarEu também fiquei com a cara no chão. O povo desata logo a olhar e a "avaliar". Fica-se sem chão, sem argumento, sem sangue.
Também lá volto, mas aquela não me vê mais os dentes. (Que não caem, ao menos isso.)
Mas isto é tudo gente que faz dos calotes, modo de vida?
EliminarJá não há decência, valores, vergonha na cara?
Para que conste, em 73 anos a pagar contas, nunca deixei um calote que fosse em nenhum sítio. Incha aí! E aprendam, que não vou andar aqui para todo o sempre.
Dos calotes, não sei, mas da acusação gratuita, são exímios!
Eliminar73? Disseste 73? És um rapazinho perto dos meus... quê? Ia nos 94 a última vez que falei nisso, não ia?
Linda Blue, a fazer calotes desde 1924... :D
ResponderEliminarAL
1923 :D
EliminarIsto foi mal abri a pestana!
Li 93, estava a dar-te um desconto na idade, como a outra loja de óculos (não me pagam para fazer publicidade) :)
EliminarAL
Não me tirem nem um mesinho à idade, por favor! :)
Eliminar" Barreiras linguísticas " = péssima figura minha.
ResponderEliminarÉ triste mas é verdade.
É defeito meu ...que não consigo controlar .
Faço sempre tristes figuras.
Começo a rir ( sem nenhuma maldade ,tipo nervoso) e ao tentar disfarçar...pior figura.
É triste ,mas sempre foi assim na minha vida.
Muito triste !
Eu gosto daquelas pessoas que não conseguem dizer os RR sem os transformarem em GG, tipo Migga Amaggal, o teggog dos tgadutogges. Não podem pedir um saco de cagamelos a quem vá a Badajoz.
EliminarE também daquelas que não conseguem dizer os LL, como aquele boneco do Herman José, que era o Luís Lalande (Uís Uauande).
Uma vez encontrei uma pessoa que juntava as duas valências e era divertidíssima.
Mas esta fanhosa ficou-me atravessada.