Outro dia encontrei um anúncio no OLX, posto por alguém que vendia 28 livros da colecção Baby Blues — aqueles mesmos que eu carrego debaixo do braço, qual intelectual insaciável, quer para a praia, quer para o campo, contrastando com quase toda a população que me rodeia, que ele é Kafka no original, Marquez em esperanto e Nabokov em mandarim, já eu, atravesso quer areias, quer terras, quer lodaçais com a minha rica BD em português, e não pensem que isto não me levanta, se não poeiras, pelo menos dúvidas relativamente à minha postura, que espero se mantenha vertical por muitos e bons anos.
Aquilo tudo, estava pela módica quantia de 50 euros, o que, assim num relance matemático — que também os tenho —, me fez sonhar com os meus belos romances a cerca de menos de dois euros cada um. Dos 28, já possuía oito, passe a redundância, pelo que vai de oferecer 36 pelos 20. (Se fizerdes as contas em vossas calculadoras, chegareis à conclusão de que até fui generosa, pois que propus mais 3 cêntimos por cada um, que ele também me custa a ganhar.)
Não sei como, já que o anúncio era das 9 da noite de um dia e eu fiz a minha proposta às 8 da madrugada do dia seguinte, a colecção já estava, segundo o vendedor, apalavrada para outrem. Há gente que não dorme. (Literalmente.) No entanto, uma vez que aquele outro comprador não pretendia ficar com todos, ainda sobraram uns 5 dos primeiros 28. Desses cinco, como já tenho dois, combinei com o vendedor a compra dos três restantes, pela fortunaça de 6 euros. Há gente que nasceu para agiota. (Ou especulador.)
Lá fui, feliz, mas frustrada com o culminar da minha mega-compra, reduzida a micro (eu). Simpática, porque não sei ser de outra maneira, a não ser que me chamem mal educada (a sério, podem chamar burra, estúpida, feia, gorda, até magra, se quiserem. Mas mal educada aborrece-me), encontrei o vendedor e disse assim:
- Deixe-me cá ver os livros. Ai, adoro esta colecção. Estou a lê-la toda, é mesmo para mim, não é para oferecer. Já tinha dois ou três, e este ano, na Feira do Livro, comprei mais seis. Acho que foram seis, agora que falo nisso... mas sei que foi a preço reduzido, tipo comprava dois e trazia três, ou qualquer coisa assim. Bom, não interessa, sei que tenho para aí uns oito, mas até estou a entrar naquele modo de ter que fazer uma lista dos que já tenho, porque senão, qualquer dia, começo a comprar repetidos, o que, vindo de mim, não é nada de surpreendente. Tive muita pena de não ter ficado com a colecção toda, até podia comprar-lhe os que já tinha, e depois vendia os que já tivesse. Não percebo como é que aquilo aconteceu, então o João pôs o anúncio às 9 da noite e, no dia seguinte, às 8, já tinha os livros quase todos vendidos? É que foi mesmo azar. Agora vai ser uma dificuldade para encontrar quem venda assim uma data deles a este preço. Há lá uns quantos, que vendem um ou outro, a 7 euros cada um. E parece que todos vendem os mesmos, que é o número 1 e o "O regresso dos mortos de sono". Por alguma razão, ninguém quer esses dois. Eu também já os tenho, não vou comprar esses.
João, o vendedor, estendeu-me a mão e disse:
- Não a canso mais.
E desapareceu no horizonte. (Exausto.)
Tia Carminda? És tu?
ResponderEliminarSim, filho, claro!
Eliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=T-dKn56oYf0
épico :D:D:D:D
EliminarPois...não posso opinar! Não conheço mo João, nem os livros!
ResponderEliminarPois... assim sendo...
EliminarAhahah deixaste o João dizer boa tarde, pelo menos? :)
ResponderEliminarAcho que não. Na verdade, não me lembro da voz dele. Só disse aquilo, de manita esticada :)
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