Ou tu?
A minha casa, como qualquer lar civilizado que se preze, tem bichos de prata, ou peixinhos-de-prata. Desde que temos gatas que eles diminuíram em quantidade, quer porque não são parvos e vão chatear para outras bandas, quer porque elas os comem. Nunca provei, mas imagino que sabem a peixe, a avaliar pelo nome e pela gula com que elas os tragam. A regra é aparecerem mais nas casas-de-banho e cozinha, provavelmente por preferirem azulejos, ou então zonas com humidade.
Vi passar um bicho de prata e Dona Molly andava por ali.
Ah, esqueci-me de frisar que não mato bichos. Nem mesmo estes. Passo-lhes um papel por baixo do corpo e atiro-os pela janela. (São invertebrados, calma.) (Moro num segundo andar, mais calma.) (Tenho o cuidado de os atirar para um vaso, ou simplesmente deixo-os na varanda, mais calma ainda.) Quando não estou para ter esses trabalhos, assusto-os e obrigo-os a esconderem-se.
Não sei o que é que me ocorreu desta vez. Acho que quis testar os olhos (dos quais desconfio de uma séria miopia) da gata, e também a sua esperteza (da qual desconfio de uma séria miopia). Chamei, "Molly, olha o bicho!", e a fulana nem ó burro queres água. Insisti, "Molly, um bicho!", e pu-la diante dele. Ela viu-o, deu-lhe com a pata, ele iniciou a fuga, ela deu-lhe duas, ele deu-lhe gás, ela deu-lhe três, ele ó patas para que te quero, ela deu-lhe a quarta, de misericórdia, já eu pulsava de culpas, remorsos e arrependimento, que são todos praticamente sinónimos, e se resumem naquela dor espinhosa que nos atravessa a cabeça e o imaterial que é a alma.
Ela comeu-o, não sei se semi-vivo, se é que isso existe, sobretudo depois de tão refinada sessão de tortura.
Nunca mais duvido das capacidades [de me fazer repensar as minhas prioridades] daquela gata.
é evidente que estamos perante um problema filosófico, embora não saiba muito bem qual, posso acrescentar que Molly, de sua graça, respeitou a existência do colega, até à provocação final em que não podia deixar os créditos em mãos (patas?) alheias.
ResponderEliminarbeijinhos. juízo.:))
É o problema da hierarquia dos valores, ou um desses insondáveis, Mia.
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Juízo? Olha, eu tento...
Beijinhos
É a chamada "fast food". A preferida da Matilde é moscarra crocante. O Tomás prefere osgas. :D
ResponderEliminarOlha, mas a verdade é que não há bicheza em casa. Pêlo, muito, tudo esfarrapado, mas cá bicharocos, viste-los! :D
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