Conversa com as minhas pretas. Uma veio de Angola e é branca. É mais clara que eu, mesmo sem praia em cima. Mas tem o cabelo encarapinhado, os lábios grossos, o nariz empinado. E aquelas pestanas que eu também queria. Quando vai à praia, tem que se proteger com um factor altíssimo, senão apanha escaldões, coisa que eu nem sei o que é. Mas eu não vim de Angola, o meu nariz é empinado, sou mais escura que ela e o meu cabelo é quase liso. E a mancha mongólica? A preta não sabe o que é. Explico-lhe que nasci com a mancha mongólica, pormenor que me foi revelado quando comecei a ver nascer crianças na família a que pertenço, todas com a mesma mancha. Não, nem ela nem as filhas, nenhuma nasceu com a mancha. Preta mais branca que eu. Mais tarde, outra preta. Eu já intrigada, esta é mais escura que eu, também tem o cabelo encarapinhado e os lábios grossos, tem um nariz lindo, direito e empinado. Sim, os filhos nasceram ambos com a mancha. Já estou mais descansada. Somos as três pretas, só que uma mais clara que eu mas com cabelo de preta. Somos a prova final de que o Hitler não percebia nada de raças. Somos o noves-fora-nada de que nunca podes ser racista, nem segregar ou estigmatizar ninguém pela cor da pele - já agora, nem por qualquer opção que faça na vida - sob pena de o preconceito se virar contra ti.
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