11/10/2021

Os animais falam connosco

Molly, registada Pequena Molly num momento de clara incapacidade de antevisão — pois veio a tornar-se um animal enorme —, iniciou um ritual mictório nos lavatórios das casas de banho, dando uso à caixa de areia apenas para a defecação, valha-nos isso. Assim, disse-me ela: “Olha para mim, estou doente.” Pela frequência e quantidades mínimas, rapidamente percebi que se tratava de algo parecido com (ou no mau caminho para) uma infecção urinária. Não precisa de me dizer que é inútil tentar metê-la na gateira para a levar ao vet, a menos que não me importe de ser mordida e arranhada a ponto de ficar sem as veias dos braços e, vá, um olho, com a garantia porém de que, ainda assim, não vou conseguir enfiá-la lá dentro. Compreendo, porque eu própria não o permitiria: aquilo é claustrofóbico e aterrorizador, além do que, o que se segue é uma (curta, é certo) viagem de carro, que ela detesta, e um ambiente estranho com gente igualmente estranha a mexer-lhe no corpo e a fazer-lhe “maldades” — tirar sangue, recolher urina, dar-lhe injecções, quando não — cúmulo dos cúmulos — cortar-lhe as unhas. Da última vez que lá esteve, após épico enclausuramento na caixa de transporte, em que saíram pessoas magoadas (ensanguentadas!) daquela relação, teve que ser metida na jaula das feras (don’t ask). Isto, apenas para ser vacinada.

Posto isto, dirigi-me à clínica, sem gata, expus o problema e trouxe para o lar um anti-inflamatório para senhora dona Molly tomar durante cinco dias, e ainda a marcação de uma consulta para análises e exames para amanhã, terça-feira, às 11:00 horas da madrugada. Já lá vamos.

Diz-me a gata, através de gesto e modo, que não toma medicamento algum, seja em cápsulas (mesmo que abertas e misturadas, nem que seja com filet mignon), em comprimidos desfeitos, ou em líquido. É óbvio que me grita, “Estás louca, queres envenenar-me?”. E então, por pesquisas nos meus já escassos e desgastados neurónios, cheguei à conclusão de que a única “guloseima” à qual ela não resiste de todo, é azeite. Portanto, agora toma todo e qualquer medicamento, desde que desfeito numas gotinhas desse ouro alimentar. Um dos amores da minha vida é, em suma, azeiteira.

A veterinária deu-me uma cápsula de calmante para dar à gata uma hora e meia antes de a levar à consulta. Resta-me apenas a dúvida se efectivamente lha dou, ou se a tomo eu. Melhor, talvez, será abri-la, misturá-la em azeite, e vai metade para cada uma. A minha parte também pode levar vinagre e orégãos, so help me God.


4 comentários:

  1. Olá
    Como eu sei o que é ter um gato que parece um tigre furioso quando vai ao veterinário!
    O Noddy, 15 anos, parece uma fera, toma dois calmantes antes de ir e chega lá num estado de nervos aflitivo.Segundo o médico é só medo...
    Infelizmente, no próximo mês tem mesmo que ir ao veterinário. Foi operado a um fibrosarcoma,maligno, e o médico quer ver como o gato está.
    Mas a dar comprimidos a gatos sou perita. Eles nem percebem o que lhes aconteceu...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Ana
      Correu tudo mal, à excepção de pô-la na gateira, em que aproveitámos aquele décimo de segundo de "agora ou nunca". Lá chegada (porque não tomou o calmante na totalidade, se calhar o azeite soube-lhe a droga), atacou a veterinária, de maneira que teve que ser anestesiada para eco, análises e, já agora, cortar as unhas. Cada ida é um stress para ela e outro para nós.
      Tem umas pequenas pedras nos rins, algo controlável através de dieta (Purina Urinary), mas pode vir a ter insuficiência renal quando for mais velha.
      Não fazia ideia de que Mr. Noddy estava doente :( Só quem os tem é que sabe o sofrimento que é ver os nossos bichos doentes. Espero que lhe corra tudo pelo melhor.

      Eliminar
    2. O Mr. Noddy, normalmente, também acaba anestesiado. Já o Mr Pickwick é uma ternura no veterinário.
      O Noddy tem mau feitio, mas não comigo.
      Recuperou muito bem da cirurgia e anda feliz e bem disposto.
      Com a idade de 15 anos, acima de tudo, e é o que digo sempre ao veterinário e ele felizmente concorda, o que eu quero é que o Noddy ande feliz e não lhe causar nenhum sofrimento sem qualquer sentido, designadamente tratamentos que pouco adiantariam.
      Vamos ver como corre.

      Eliminar
    3. A minha ferinha teve que ser metida na jaula de contenção, antes da anestesia.
      Sim, os tratamentos inúteis e penosos, nem para as nossas pessoas desejamos. Já passei por isso com a Mia (10 anos), custa sempre. Mas a tua atitude é a mais correcta, Ana. Há um momento em que basta, e é o ponto final.
      Correrá bem, sendo assim.

      Eliminar