Foi mãe e foi avó, e também foi tia porque o era, e foi, principalmente, o colo que faltou, quando faltou, e também braços — magrinhos, mas que abraçavam um abraço gordo que nos aninhava no peito farto —, foi guia que nos pôs a rezar e nos ensinou a rezar forte, e nos salvou o pai quando, no coma, nos fez pedir ao Pai, à noite, antes de deitar, joelhos no chão do quarto, as mãos muito juntas, Pai, salva-me o pai, que ainda hoje tenho a certeza que foram as preces, rezadas até doerem os joelhos, até ao adormecimento com a cabeça na cama, e depois, já deitada, pela madrugada fora, não foram os médicos, não foram, não, foi a nossa Titi, que nos disse como fazer.
Deu-nos também, de mão beijada (tanto que deveria ter beijado aquelas mãos, de onde saía tudo perfeito), os dons de mãos que eram seus: a coser, a bordar, a fazer bolos, a cozinhar. E estávamos ontem a lembrá-la e eu vi-lhe as contas ficarem de vidro, porque é de vidro que a saudade é feita — frágil e sólida, delicada e resistente, suave e poderosa.
Tens máquina de costura?, perguntei-lhe.
Claro que tenho, respondeu-me ela.
Claro que temos — a Titi deu.
A saudade Linda... Ai, a saudade... A saudade é de vidro é... A mim rasga-me como tal. Cada vez mais fundo.
ResponderEliminarUm grande beijinho.
Estilhaça-nos, Nê...
EliminarBeijinhos, querida.
Linda Blue, no seu melhor !
ResponderEliminarMuito bonito !
Obrigada, José!
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