03/06/2016

Carraças, caraças, que raça!

Veio dizer-me, de olhos escancarados, que já encontrou duas carraças cá em casa.
Caraças. Carraças? Que raça a da mulher.
Diz que, uma, num dos ténis do rapaz, a outra atrás do sofá da sala.
O rapaz leva os ténis, todos os dias, para a escola, e não está quando ela está. Ela não arreda um sofá, assim como não arreda um depósito da roupa suja, assim como não arreda uma taça das gatas: tudo são móveis, imóveis, inarredáveis, fixos por parafusos que só ela vê, ao chão.
Além disso, duvido que ela saiba o que é uma carraça. Ela diz que sabe, porque já teve cães que as tinham. Isso ilumina-me um pouco a ignorância, e sossego a apreensão, com a desculpa interior de que, se calhar, quem traz as carraças é ela. Na verdade, ainda tem cães, num quintal lá no sítio onde mora, que servem a caça do senhor com quem se deita à noite.
À cautela, desparasitámos as gatas. Temo pelos passarinhos. Panico por nós.
Ponho a possibilidade de ela ter visto mesmo duas carraças, e de ter mais uma ou mais dez em casa, trazidas sabe-se lá por quem e como. Mas, com filhas que salvam gatinhos em perigo e a morar numa zona da cidade com tantas zonas de relvado, só com muita sorte é que não tenho mais animais em casa. Eu própria apareci imune à toxoplasmose e à rubéola, sem nunca ter havido memória de ter tido uma ou outra. Sou mesmo capaz de vos poupar às minhas sagas com o lombriguedo. E eu era uma menina da cidade. Assim estava classificada, pelo menos.
Deito as mãos atrás das orelhas e sinto logo uma coisa. Ah, afinal não é uma carraça, é uma merdinha. Antes assim. Inspecciono as orelhas que apanho à mão, que são bastantes. Contudo, sei que o bicho não se agarra só aí, embora também. Lembro-me de um episódio do Dr. House em que a rapariga tinha uma na virilha. Já ia quase morta para a sala de cirurgia, quando ele lha tirou, no elevador, com uma pinça cirúrgica. Eu não quero nada desses filmes cá em casa, especialmente porque o Dr. House não viria tirar-me a carraça da orelha, quanto mais.
Esta noite sonhei com carraças. Nunca me chove prata de noite, mas lá carraças, c'um caraças. Tinha carraças a acarraçarem-me as paredes de casa. Eram às dezenas, e isso não foi agradável. O nosso cérebro nunca pára, e, às vezes, isso, por si só, é um entrave na nossa vida.
Caraças para a mulher e mais a PDM. Começo a suspeitar que, também ela, usa metáforas e eufemismos, e que, no momento em que me disse que tinha encontrado uma carraça agarrada ao sapato do rapaz e outra atrás do sofá, estava mas era a ver-se ao espelho. 

4 comentários:

  1. Anónimo3/6/16

    Táje enganada! Não era na virilha era no interior da...
    ...e não foi com uma pinça cirurgica, foi com os dedos, com a respectiva luva de latex, claro!
    Com o elevador encravado entre pisos e o Foreman a passar-se...
    ...e com a Cuddy a dar ordens para abrirem o elevador, pronta para o crussificar quando a porta abrisse...

    Foi um episódio giro!

    :)

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    1. Pois que não me lembrava com esse rigor. Não tendo sido comigo... :)
      Dr. House, my heroe.

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  2. Ahhhhahhh ! :)
    Até eu fiquei com comichões .
    Calma ! O povo é sereno !
    Linda a senhora não bate bem !

    https://youtu.be/v0wy0sDdrkE

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    1. Eu só me lembro do jingle "Com Dum Dum não escapa um, Dum Dum é o fim!".
      Mas não para carraças, isto era moscas, melgas e mosquitos...

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