28/06/2014

Pensando bem, Primark, li amo. Ou, em português PT: estou contigo, miga.

Foi notícia, esta semana, o aparecimento de uma etiqueta bordada por uma funcionária da fábrica da Primark, com um pedido de ajuda devido ao excesso de horas de trabalho. Bordada, não escrita. Alguém teve tempo e paciência para bordar uma mensagem inteira, com cinco palavras. Como eu sofro de síndrome de teoria da conspiração, continuo a achar que existe uma forte possibilidade de a etiqueta em causa ter sido "fabricada" pela concorrência, esmagada pelo poderio da Primark, no que toca a relação preço-"qualidade". 

Ora bem. Há três anos atrás, a Zara foi, precisamente, alvo da mesma denúncia que agora atinge a Primark. Pela mesma ordem de ideias, a mim apetece-me imaginar que, nessa altura como agora, a denúncia partiu da concorrência. Porque esta mania da teoria da conspiração é como a democracia: ou há ou comem todos. Apesar de a própria Zara ter admitido que era uma... senzala. 

Usei aspas na palavra qualidade, tendo em conta que, na Primark, tudo é em baixo: os preços são baixos, porque a qualidade é baixa. Nada do que se vende na Primark é feito para durar a vida toda. Mas atire a primeira pedra a mulher - queiram ou não, somos as grandes consumidoras de trapos, quer para nós como para os respectivos, crias e casa - que compra um top ou uma saia para durarem a vida toda (vale que pouca gente me lê, caso contrário, estaria agora a ser apedrejada pela brigada intelectualódepressiva). E a Primark assume o factor (baixo) preço-(baixa) qualidade tranquila mas subrepticiamente. Não faz publicidade, não tem site, não advoga que tem os melhores preços (porque tem) para a fancaria que vende, nem nos enche a caixa de sms com mil mensagens de promoções e descontos. Enfim, what you see is what you get. Depois, a Primark tem, para mim, outra gigantesca, esmagadora, vantagem sobre o grupinho Zara (que é o que está histérico com a concorrência que a Primark lhe faz): permite-nos dias bipolares. Respeita que uma mulher acorda uns dias santa e outros devassa. Por 4 euros cada um, permitiu que eu comprasse dois topezinhos, iguaizinhos entre si, mas um para os dias santos (por estrear) e o outro para os dias wilde (hoje no corpo). E nisso eu fico-lhe eternamente agradecida.



As concorrentes não fazem nada disto. Apresentam na loja peças da mesmíssima má qualidade da qual acusam a Primark, mas a preços muito superiores. Senão vejamos: 

Os dois tops que mostrei acima são de fibra. A qualidade é zero vírgula um. Qualquer dia de mais calor ou em que haja actividade física excepcional farão de mim o texugo da área. A fibra não é amiguinha das morenas.

Há três meses comprei este camiseiro na Zara. Material, 100% fibra.
A mim fica-me melhor do que a esta deslavada de cabelo sujo, mas isso não é agora o point.





Foram € 29,90 para a caixa registadora. Estava a trabalhar e tinha que me apresentar com ares. Comprei, sem experimentar na loja, o M, mas devia ter trazido o S. Na primeira lavagem, esgaçou num dos ombros. Não descoseu a costura, abriu o tecido. Fui trocar (sintomático que as funcionárias nem pestanejam quando apresentamos uma peça naquele estado ao balcão e não, não é política da empresa, é consciência de que a qualidade é só má) e aproveitei para trazer o S. Usei o camiseiro mais umas três vezes, até um dos botões saltar e ir parar a nowhere. Não é grave, é só mais um sinal de que é tudo feito à pressa, mal, aos milhares, sem preocupações de satisfação mínima do cliente, a não ser a imediata. Mas com preços muito distantes da primeira Zara em Portugal, estabelecida na Av. Guerra Junqueiro, no espaço do cinema Star, e onde cheirava sempre a esgoto. Era a boutique da feira, a que provocava tumultos quase até à Mexicana durante os saldos, mas era a loja-barata-da-roupa-feita-para-durar-uma-estação. Agora também dura, mas deixou de ser barata há muitos anos e ganhou uma proa que não justifica de maneira nenhuma. 

Daí que não consiga perceber os critérios daqueles que tão bem distinguem a Mango e a Zara - e todo o grupo Inditex em geral (Bershka, Stradivarius, Massimo Dutti, Pull & Bear, etc) - em termos de qualidade e até se benza quando se fala da Primark. Eu benzo-me é quando compro umas calças no Massimo Dutti, a preços Massimo Dutti, e só com o uso é que percebo que não é a minha perna direita que é torta, a costura da calça direita é que está torta. Heh.

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