Depois de ter despedido dois dentistas - o primeiro foi o tal que só me achou bela já eu não queria nada com ele nem com a broca dele -, arrisquei um terceiro. Ainda só lá fui uma vez, porque sou tão vacuda que nunca preciso. Nem pedras fabrico, nem dores tenho. Penso até que sou um pouco santa, só isso explica a falta/resistência à dor que me assiste.
Este sim, rapaz bem apessoado. Sento-me na cadeirinha de barbeiro (nunca reparasteis na semelhança? Tem a ver com a origem das duas profissões, nada que agradecer) e ele olha-me nos olhos. Mau. Ao menos este tem uns olhos bonitos. Queixas? Não tenho. Eu frequento médicos porque as outras pessoas também frequentam. Ou não levo uma queixa de jeito, ou simplesmente não levo nada. Se calhar por isso o ambiente constrangedor que se gera entre mim e o profissional de cada foro. Não há nada para dizer. De que se queixa? De nada. O que lhe dói? Nada. Haverá maior turn off para um médico do que isto? Enfim, com este, vai de ser criativa, até porque a SPAMD, ou lá o que é (aquela da medicina dentária, que manda tratar dos spams dos dentes) manda que vamos ao dentista duas vezes por ano, espaçadas uma da outra. Não dá para dar duas seguidas e arrumar a questão. Vai daí, queixei-me dos queixos. Disse-lhe que estalava quando mastigava. Que ouvia barulhos mesmo ao pé dos ouvidos ao mastigar. Ele atento. Eu a criar uma sit, para mim nada com. Devo-me ter entusiasmado pelo silêncio compreensivo dele e pelos olhos doces, e ainda avancei um bocadinho no exagero: "Neste momento, nem vale a pena estar acompanhada quando estou à mesa, não ouço nada do que as pessoas dizem, tal é a barulheira dentro da minha cabeça".
Foi quando ele começou a desenvolver a teoria estúpida dele. Como numa maratona, a ver quem consegue ir mais longe. Então, perguntou-me se eu sou flexível. Sim. Se eu chego com as pontas dos dedos ao chão, estando de pé com as pernas esticadas. Sim, chego com as palmas e ainda dobro os cotovelos até aos 45º. Se eu faço a espargata. Essa já me deu para desconfiar, mas fui sincera na mesma. Sim, se for a perna esquerda que vai à frente. Depois ele explicou que eu posso ter o disco do maxilar (?) desgastado, de tanto mastigar. Só se podia estar a referir às pastilhas elásticas, que eu dou ares de tudo menos de comilona. Pelo menos, não de comida-fude.
Também me disse que o maxilar naquele estado pode levar a dores de cabeça e até de costas, por vias do pescoço. Eu ainda não estava contente com a quantidade de artoadas que já tinha ali deslargado, e queria mesmo ganhar aquela maratona. Então palpitei assim: "Ah, então, se calhar, o meu maxilar estala por causa do pé chato".
BTW, deixei de estalar dos queixos. Mas o pé continua chato cumá porra.
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