Acompanhada pelo anjo dos braços que mais me abraçam, no corredor que dá acesso à sala de tratamentos — o corredor da vida? —, vi passar, depois de o altifalante ter chamado um nome masculino, um rapazinho com talvez dezanove (ou estarei a exagerar, dezanove parece menos grave do que os dezoito ou dezassete que teria?), mochila da escola às costas, cabelo intacto, certamente primeira quimioterapia. Com ele, a mãe. A enfermeira aproximou-se de ambos, enlaçando os dois ombros da mulher, que, não posso estar enganada, chorava a mágoa daquele tenebroso momento.
Só os vi de costas — a não ser num brevíssimo segundo em que o rapaz se virou e lhe vi o rosto ainda infantil, de olhos grandes e moldado por bochechas —, e ainda bem. Estava já tomada por uma vontade irreprimível de ir meter-me inteira naquele semi-abraço, que não era meu, sequer era para mim, poderia apenas, na mais fraca das hipóteses, ser de mim. Foi também por pudor, possível embaraço dele e refreio social que não abracei o meu filho, em nome do dela, e não pedi “Não me deixes, nunca me deixes”, nem roguei aos céus “Não permitas, não leves aquele filho, não leves os filhos de ninguém”. E a minha dor, a minha tormenta, a minha dura caminhada até aqui e até ali, pareceram-me tão menores, perto daquelas lágrimas que, ainda assim, não vi.