Desconfinando-me alegremente, encontrando vantagens em toda esta nova realidade.
1. Já não preciso de fazer ziguezagues no passeio quando vejo surgir alguém com quem não quero cruzar-me, simplesmente passo ao largo, à maior distância e velocidade que consigo atingir;
2. Da mesma forma, quando vou correr, posso contornar as pessoas o mais longe que consigo e de forma acintosa, pois se ficarem ofendidas, tanto melhor. Quem vai a expelir partículas sou eu, até deviam agradecer-me (sou quase santa). Um caldo e alguns kudos para esses casalecos que vão passear o bebé para as ciclovias e ficam assaz ansiosos de cada vez que se cruzam com alguém, tipo de dois em dois minutos;
3. Nas filas dou prioridade a quem bem entendo, não há cá criança de colo com dez anos (verdadinha, caia eu já aqui dura e seca se não ocorreu à frente das minhas vistas ainda outro dia) nem pessoa acima dos 65 com melhores pernas do que eu. Cumpro a lei à risca, agradeço que me copiem;
4. Óbvio que abordei a praia, ainda Maio não se finara. Um luxo, todos distantes uns dos outros, um areal a perder de vista (o mar assim colaborou), também por não haver colmos nem aquelas paneleirices de concessionários que só estorvam a Natureza que é de todos. Fiquei a saber que o nosso andar provoca um curioso ruído no areal, um chiar que era inaudível antes, mas agora, com toda esta nova acústica, parece música para tímpanos como os meus. Por falar nisso, também apreciei o facto de poder estar tranquila sem ouvir a conversa da família que faz muita questão em acampar ao meu lado, assim como avistei muito menos quilos (litros?) de celulite e metros de tatuagens. Felizmente, a minha visão ao longe já não é o que era;
5. Óbvio que abordei o shopping, logo no primeiro dia de abertura. Outro luxo: o povo todo afastado uns dos outros, circulação pela direita (um beijinho solidário a todos os canhotos do planeta), os brutamontes a avisarem quase aos berros que nos mantenhamos à direita, o altifalante a avisar do afastamento, eu por mim vivia assim o resto dos meus dias. À porta da loja, uma menina a derreter de simpatias, a chamar a colega depois de me alcoolizar as manitas, a colega toda ela préstimos e mesuras, até dei por mim a abusar da sorte e a levar três séculos a encontrar o vestido que queria no site da loja, ela impávida e serena, sempre a sorrir atrás da máscara, isto noutros tempos era coice na certa que havia de desembocar numa luta na lama;
6. Óbvio que abordei o restaurante logo assim que ele abriu. Se, por um lado, é estranho entrar mascarada, sentar e tirar a máscara, se quiser ir lavar as mãos, volta a pôr a "cueca", tira outra vez para comer, volta a pôr para sair dali para fora, por outro lado, quem me tira a conversa da mesa ao lado, dá-me anos de vida, e principalmente porque também não captam a minha eloquência. Tenho (tinha!) um bocado de problemas com isso, pois ficava sempre com a sensação que o Mundo parava para me escutar, tipo Greta, quando me sentava a uma mesa num desses sítios públicos. Coisas de vedeta, desenervem-me;
7. Óbvio que abordei o ginásio. Tudo extremamente limpo e desinfectado, gel e máscaras para todos, corredores de circulação com sentido único, aulas com lugares marcados e ninguém sai do seu quadradinho, nem que lhe apeteça subitamente fazer um grand jeté;
8. Já que não as posso vencer, adquiri as máscaras mais bonitas, confortáveis e fashionerer que existem no mercado, e que, ainda por cima, são certificadas. Aqui (NMPPI);
9. Não ter que andar de elevador com os vizinhos/ frequentadores dos mesmos edifícios, por razões de segurança, hallelujah irmãos! Na verdade, a maior parte das vezes vou pelas escadas. Mas quando não, agora posso recusar veementemente companhia no habitáculo ascensor e descensor sem que ninguém me possa acusar de mete-nojo (olhem, que sou);
10. Não respirar o bafo dos outros, apenas o meu!
Oh, gente, estou no céu!
10. Não respirar o bafo dos outros, apenas o meu!
Oh, gente, estou no céu!
ora, está tudo como sempre devia ter estado!
ResponderEliminarMesmo, Ana. Acabou-se o toque desnecessário, o desviar de caminho para quase se esbarrarem connosco, a proximidade indesejada nós ajuntamentos (filas, salas de espera, parques), isto nunca deveria ter sido de outra maneira!
EliminarAhahahahah
ResponderEliminarCom esta cagança toda, vale a pena ser mete nojo.
O mais possível, ao cabo e ao resto,, sei lá, uma possidonite, noname! :D
EliminarA uma das minhas irmãs que simplesmente atravessou a rua para levar ao lixo, a senhora que vinha por aquele lado e pensou que ela atravessava para não se cruzarem, agradeceu-lhe
ResponderEliminarTambém já me aconteceu agradecerem-me (ter atravessado a estrada durante uma corrida para não me cruzar com um bebé), mas não é regra. Nem quero saber, estou a adorar não haver roça-roça “inadvertidos”.
EliminarEu não me identifico, não estou a gostar nada desta nova realidade xD. Já me afastava das pessoas antes, saber que elas agora podem ser portadoras de um vírus ainda me aflige mais.
ResponderEliminarBeijinhos
Blog: Life of Cherry
Pensa que o facto de elas se afastarem também é um trabalho a menos que tens que ter. Eu não quero outra vida, nunca mais. Aceno de mão, cotovelo com cotovelo e não há cá mais intimidades indesejadas.
EliminarBeijinhos, Cherry