02/06/2020

Distracção

E eis a América (do Norte, claro) a distrair o Mundo dos seus 1.137.340 infectados - eu repito, por extenso: um milhão, cento e trinta e sete mil, trezentos e quarenta infectados - e 106.927 mortos - cento e seis mil, novecentos e vinte e sete mortos, com a bandeira do racismo (que sobrevive pacificamente? desde que aquela nação é nação), a propósito da morte de um homem negro às mãos de um polícia branco. Apesar do abuso de autoridade e cometimento de um crime de sangue, parece que o único factor relevante em toda a história é o da cor da pele dos intervenientes nela. 
Não se conclua que não lamento a morte daquela pessoa. 
(Máximo cuidado com as palavras, LB, nunca sabes que olhos te vêem as letras.)
Lamento, sim, assim como me repugna, espanta, desilude da raça, deprime, até. Tenho filhos, tenho medo que, um dia, sejam apanhados numa situação daquelas. Porém, também já cheguei a uma idade em que não embarco em manobras de diversão - distracção, melhor dizendo -, em reality shows que me alienem de uma outra realidade muito maior, para a qual, de repente, todos cegaram milagrosamente. 
É que também lamento, me repugna, espanta e desilude da raça que há uns meses tenha acontecido - isto, só para exemplo imediato - a morte de um jovem no meu país, só porque ia ali a passar "no local errado e à hora errada" [a culpa sempre a morrer solteira, e, vai-se a ver, virgem], (repito: tenho filhos, tenho medo que, um dia, sejam apanhados numa situação daquelas), e, nessa altura, não tenha havido uma terça-feira (ou quarta, ou quinta, tanto faria, de nada adiantaria) negra (ou por que não branca?) de luto por ele. Não me lembro de uma única voz ter sido levantada, içando a bandeira da cor da pele, nessa altura. Porque ser racista é subjugar uma única raça, a negra. O contrário já não se considera como tal. 
Dois pesos e duas medidas não consigo entender - nem o dicionário me explica - e, talvez por isso, é assunto para me irritar para lá do suportável. 


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