Pois, eu, acho mal. Não porque possa interessar-me ver o que quer que seja, num jogo de futebol, a não ser o próprio jogo, e, mesmo esse, depende. Olhem, depende dos fatos dos jogadores, da combinação em matchi-matchi da bermuda com a blusa mais o soquete e o téne, da harmonia entre os uniformes das duas equipas naquele todo com o verde em pano de fundo, enfim, depende de uma série de factores estéticos, e também externos, que em nada se prendem ou sequer agarram com as meninas da plateia.
O que verdadeiramente acho mal na notícia, são muitas coisas, a saber:
1. Para já, a noção de bonito é olimpicamente subjectiva - uma vez que se prende com o sujeito, e aqui mais do que nunca -, e o que eu posso considerar bonito, para o meu vizinho da frente ou o de cima pode ser o horror, e gostos não se discutem. Por exemplos, eu era capaz de achar que estavam a filmar uma mulher bonita num estádio se me aparecesse no visor a Audrey Hepburn, que essa sim, era uma mulher bonita, tinha uma cara lindíssima. (Mesmo à gaja, dar um exemplo de beleza de alguém que já morreu. E que já não se pode defender.) No entanto, o Zé dos Anzóis, essa mítica figura, era ver a Malhoa no ecrã, e upa-upa. Portanto, enfim.
2. Logo a seguir, não se entende por que é que se evita filmar mulheres bonitas, e não apenas e tão-só mulheres. Qual é a piada de ver mulheres no futebol? É pela novidade? Hum, é que não. Já não estamos nos anos 60 do outro século, pessoas. Uma mulher no futebol, é como uma mulher no ginecologista, e Lili Caneças não diria melhor.
3. Mas, contraditoriamente, que eu sou este poço, também acho chato que deixem de filmar as petizas futeboleiras, porque é assim: aquele é O momento delas, são os seus quinze minutos décimos de segundo de fama, para os quais se maquilham, vestem (?) a rigor, com vista a darem nas e encherem as vistas, batendo pestanas (postiças, ok, mas...?), batendo palminhas, fazendo momices, oh, pá, são tão fofas, é um bocado coiso tirarem-lhes isso...
4. Na mesma senda, não percebo que se filmem pessoas na bancada, independentemente de serem mulheres, homens, mais ou menos, ou um bocadinho de cada. Essa cena é altamente limitadora e também catalisadora. Já repararam na quantidade de gente que, ao perceber que tem o foco em cima de si, lhe cai logo uma lágrima? Há jogos cujas bancadas parecem autênticos museus com a obra completa do Menino da Lágrima, esse ícone.
Então, aquilo é ou não é o efeito imediato da pressão mediática? Qual amor ao clube, qual quê, aquilo é a imagem para a posteridade, o momento das redes, apanhado na rede.
5. Digam-me lá se esta medida da FIFA não pode originar dramas maiores do que o da simples filmagem das elegantes senhoras que se deslocam aos estádios? É que, a partir de agora, cada vez que a câmara apontar para uma mulher, ela vai poder considerar, automatica e justamente, que é consensualmente desonsiderada sensual e gira e bonita e demais predicados estéticos. Quer dizer, isto pode acarretar traumas e até aquelas coisas dos tribunais, como é que se chamam? Aquilo do direito à imagem, e assim. Eu, cá por mim, até acho que as mulheres que sejam filmadas, a partir de agora, não só podem passar a sentir-se feias, gordas, marrecas e desdentadas, como também devem considerar optar entre o que é que é melhor: ser assediada ou bullyingada?
Estão a ver por que é que eu não vou ao futebol? Era a câmara o tempo todo em cima de mim, nada de jogo, como naquelas transmissões que não pagam as licenças, sabem? E eu sem saber se era pela minha boniteza ou pela obediência às regras da FIFA, deixa-me cá ficar no lar, que eu não pago para ter mais traumatismos.
Faço minhas as tuas palavras
ResponderEliminarNunca mais vou a um jogo de futebol ( na verdade, também não devo ter ido a mais de 5). Não quero correr o risco de aparecer na tv e ficar traumatizada para sempre.
Acho que também não passei de cinco jogos, ao longo de toda a vida. Sei que não me lembro do primeiro, porque fiquei a ler uma revista de moda com a minha irmã, e só interrompi para gritar “golo!” quando foi o caso.
EliminarLivra, também não arrisco. Deixa-me cá viver na ilusão!