09/12/2016

Hoje tremo

Levanto-me, estou sentada há demasiadas horas. Dou graças não sei a quê por fazer tanto exercício. 
No entanto, tremo de medo de não conseguir cumprir. Tremo de raiva por tremer assim. 
Sento-me numa esplanada, peço um café sem cafeína, e tremo. Não está frio, mas, mesmo que estivesse, estou desagasalhada. Agarro a chávena com as duas mãos e paro de tremer naqueles segundos que dura esse contacto. Depois retomo a tremedura, tenho a inquietude do cansaço que não me larga o corpo. Só estou bem em pé, caminho um bocadinho, o suficiente para me sentir uma pessoa igual às outras. Atrás de mim, deixei sentada uma mulher pequena e magra, que conheço há anos de ver passar, com um copo de três nas duas mãos dela, também trémula, exalando a álcool desde o cabelo. 
O dever chama-me, retomo o trabalho, parei de tremer e continuo até que a alma me doa. 
Hoje a Terra não há-de tremer. — Já não é preciso, digo eu ao cosmos. 

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