Via azul

Sexta-feira, 1 de Julho: a vida leva-me a Cascais. Caminho sobre rodas pela A 5 com trânsito a mais. Demorado, parece que houve um acidente no outro sentido. Há férias que começam mal, que contrassenso. 

Decido, assim, regressar pela Marginal. Esqueço-me que o limite de velocidade é de 70 km/hora, os semáforos são aos milhares, as rotundas às centenas. No entanto, o percurso é a direito e é azul: tenho uma azul vista-mar à direita, que me pinta aquele momento de azul, a direito. Percorrer quilómetros de estrada com semelhante paisagem por companhia, parece-me um luxo a que só alguns — milhares (ou serão milhões?) — têm acesso. 

Passada a curva do Mónaco (e a memória dele, muito pequenino, sentado na cadeirinha, à saída de Carcavelos, Já não chega acordado ao Mónaco, que sempre, sempre, entrava na curva acabado de adormecer), sigo em frente, passeio marítimo de Algés afora, onde o mar se faz rio e passa de azul-azul a azul-verde, tão bonito que é assistir ao degradé da paleta imensa, tão suave e tão inquietante o quieto apagar da espuma e o amainar das ondas.

Sexta-feira, 1 de Julho: quase duas horas desde Cascais até à porta de casa.
Tortuosos são os caminhos que tomamos, quantas vezes. Mas até nos mais revoltos se encontram infinitos tons de azul — que o digam os navegantes. Que o digamos os mareantes.