29/11/2014

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Aquela tristeza toda mata-me. Ontem levei-lhe perfume e perfumei-a. Foi a única vez que a vi sorrir, nas duas horas que estive com ela. Dei-lhe almoço, comeu o nada de sempre, e teve sempre os olhos cheios de lágrimas. Hoje levei-lhe flores. Ela gosta de flores. Não saio a ela, que eu não gosto de flores. Muito lindas, muito delicadas, muito cheirosas, muito paradas. Chatas. Nunca mais quero sentir o cheiro do velório do meu pai. Flores. Então não há anormais que não gostam de animais? Eu sou a anormal que não gosta de flores. Estive mais tempo com ela do que ontem e, se calhar por isso, arranquei-lhe dois sorrisos. Quando entrei e lhe mostrei as flores e quando a voltei a perfumar. Mais nenhum. Ficámo-nos a morrer, uma à frente da outra, ela naquela tristeza, eu sem mais nada que a fizesse sorrir. Já não sei que macacada inventar para a fazer sorrir só mais uma vez. Amanhã levo-lhe verniz e pinto-lhe as unhas. Já faço aquele percurso de trinta quilómetros de olhos fechados, só para ver os dela, nem que seja assim, cheios de lágrimas.