13/05/2014

As minhas bichas adoradas

Eu não sou uma pessoa sozinha. Mas tenho duas gatas. E amo-as muito, não direi num plano físico, a menos que se considere que físico é a quantidade de beijos com que as estrafego todos os dias e, às vezes, a meio da noite (weird, I know. Mas também ninguém as manda aninharem-se daquela maneira quando eu me encontro inanimada). Amo-as de amor, puro e verdadeiro. Cuido delas e tenho medo que me morram. Estes dois sinais são, para mim, prova do maior dos afectos.

Por isso, sei que uma gosta de viajar e a outra detesta. Sei que uma se adapta facilmente a ambientes estranhos, a outra leva dois dias e, mesmo assim, nunca encontra, em estadias de uma ou mais semanas, o spot do conforto, o da sesta (no plural, trata-se de um gato), o da higiene, o da alimentação, o da brincadeira e o do esconderijo. Aliás, este sim, encontra logo, passando a ser preferencial e quase exclusivo.

A primeira e única vez que a gata que não gosta de viajar, viajou, foi para o Algarve e chorou o caminho todo. Chorou, é o termo exacto. A viagem foi uma tortura para ela e para todos os ocupantes do carro. Levou dois dias a ambientar-se ao novo espaço, esteve praticamente sem comer nesses dois dias e escondia-se debaixo de todos os móveis que existiam na casa. Ainda a meio da estadia, desapareceu por horas, lançou o pânico, quando, afinal, estava metida num roupeiro, dentro de uma mala de viagem vazia. Já o aldeamento havia sido passado a pente-fino e a nervos. O regresso foi outro pesadelo, pelo que recebeu carta de alforria para nunca mais ter que ir muito para além do percurso casa-veterinário.

A outra adora viajar. É o único gato que eu conheço que faz trezentos quilómetros à janela, a ver os carros, a ver a estrada, na boa. Claro que, com a pausa para as mil sestas - mas não na gateira, e sim num colo. Chega ao seu destino, explora a casa, ambienta-se, escolhe cantos para  levar a cabo a atarefada vida de um gato e passa a viver ali, sem dramas. Depois regressa, na mesma tranquilidade e alegria, curte a viagem e não acha nada estranho reencontrar a casa onde vive todo o ano.

Assim, fácil é perceber que, quando marco férias, tenciono levar uma e deixar a outra, aos cuidados de uma pessoa que a alimenta e verifica se está tudo bem. Um gato não precisa de muito mais, sobretudo se for desta raça caseira e independente. 

Marquei férias e não reparei que o dono do apartamento não permite animais domésticos. Mandei-lhe um mail. Ele telefonou-me. Não está muito disposto a ceder, mas está quase. Percebi, pelo diálogo, que não consegue distinguir um cão de um gato, não tem animais, não gosta de animais e, basicamente, não percebe nada de animais. Eu também não, mas há mínimos. Fez-me  seguinte pergunta: "Mas você costuma tê-la aonde? Numa caixa, daquelas para gatos?".

Não me apetece escrever mais nada, não me apetece ir para aquela casa, não me apetece ir de férias. Apetece-me fazer cocó só de pensar que há pessoas assim. 

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Agora tenho que fazer aquela voz de jantes de liga leve ao telefone, para acabar de o convencer.
      Ou desisto da reserva e ele devolve-me o sinal. Ele diz que sim, que devolve (apesar de a lei mandar de outra forma, mas isso é a lei, que não percebe nada disto).

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  2. Ai adoro pessoas que não distinguem cão de gato...pode ser que te safes e ele deixe. Fiquei com saudades dos meus bichos agora...bah

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    1. Falei com ele há pouco, disse-lhe que não ia se não levasse a gata e ele cedeu. Disse-lhe: "Eu corto-lhe as unhas na véspera de irmos. Só não posso garantir que ela não arranhe alguma coisa, é um animal irracional, não dá para lhe dar uma ordem e ela perceber. Não é nenhum cão". Só depois de ter dito é que percebi que, de facto, a estupidez é contagiosa...

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  3. Eu à saída deixava-lhe um xixi escondido debaixo do sofá. E as janelinhas todas fechadas. Só naquela.

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    1. Grande ideia. Ainda por cima, o magano gaba-se de ter dois "sÓfás-cama", leva com xixizinho a dobrar, que é para não ser ganancioso.

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