Às vezes sinto-me mesmo aquele boneco d'A Zaragata. Sem ter feito nada por isso, o povo desata à briga à minha volta. E por minha causa. Repito: sem ter feito nada por isso. Ou pouca coisa, vá.
Encontrava-me na bicha das trocas da Primark. Parêntesis para explicar que eu já troquei tantas coisas na Primark que já fui mais vezes ao balcão das trocas do que às caixas normais. Tenho uma conta com sete folhas, todas agrafadas umas às outras. É o que dá não perceber que raio de número de sutiã de lá é que visto. Acabaram por me vencer pelo cansaço, depois de ter trazido o 34-B, trocado pelo 36-B, depois pelo 38-B e, finalmente, pelo 38-C, que vai até aos sovacos e não ampara as meninas na mesma.
Entram duas galdérias pelo lado errado - ou certo, tudo depende da perspectiva - da bicha e passam à frente de uma data de gente. Umas dez ou quinze pessoas. Eu falei. Eu nunca murmuro. Falo. "Parece que há ali duas pessoas que passaram à frente de toda a gente". A que está à minha frente desata a murmurar. Está mal. Ou se fala ou se cala. Essa de bj-bj-bj é estúpida. Chamei uma empregada e dei-lhe conta do que se estava a passar. Ela foi à caixa e pareceu-me que disse qualquer coisa à colega. Entretanto, as duas galdérias já deviam estar a cozer em lume brando. Uma trintona de um metro e oitenta por noventa quilos e uma cinquentona de rabo gigante. Eu estava a medi-las porque a vida me tem ensinado que "tens sempre que tomar o tamanho ao bicho antes de te meteres numa empreitada". Isto é válido até para o trabalho.
Sai uma tonta lá de trás, da bicha, e vai direitinha ao armário de 1,80 metros. Dá-lhe um toque no ombro, que lhe valeu logo um berro: "Olha lá, conheces-me de onde para me estares a tocar?" [eu até concordei, mentalmente. Isto, assim desgarrado do contexto, é uma grande máxima, a reter]. "Vê lá se levas uma lamparina!".
A tonta, assim como saiu da bicha, voltou para ela. Mas a murmurar.
"Ai a minha vida, estás mesmo a pedir uma lamparina!"
A outra galdéria, talvez por ser mais velha e mais sábia, aconselhava: "Cala-te, pá. Não fosteS tu que passasteS à frente, fui eu!". E também usava a palavra "númbaros".
Eu também sou sábia, que me calei. Não ia ser possível o diálogo com pessoas que utilizam a quarta pessoa do singular e ainda dizem "númbaros". Por outro lado, se chegássemos a vias de facto, naquela situação eu ficaria claramente a perder, ganhando as lamparinas da outra. Imperava a lei do mais forte. Do mais gordo.
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