23/04/2020

Coisas que o vírus maléfico me ensinou até agora [actualização]

6. Só nesta provecta idade é que aprendi a lavar as mãos. Antes desta pandemia, aparentemente, não sabia que é preciso levar o tempo de um abecedário/ música dos parabéns/ 30 segundos (ou são 30 minutos?), lavando-as tantas vezes quantas as que tocamos em alguma coisa. Tipo sempre. E que devemos lavar o entre-dedos, a ponta das unhas, as costas da mão, o dedo polegar (aquele maroto que limpa o rabo, coitado), e a mão toda, no seu geral, hasta la muñeca, como dizia o vídeo que me ensinou a mim. Eu cá por mim, acho que devíamos lavar até ao cotovelo, como os cirurgiões. Ou até à sovaca. Já agora, incluindo-a. Pois olhem, não vão mais longe, que não é em vão que o afirmo: já passei por uma bicha de gente, toda ela mascarada e enluvada, mas em que o pitol a azedo de alguém (basta um!) perfumava toda a zona onde se encontrava o ajuntamento de gentes separadas por um metro ou dois entre sis;
7. A máscara faz um calor de ananases, faz comichões na face, provoca claustrofobia e não há arame nasal que a segure em narizes pequenos. Fala-vos uma vítima da dita. Ora não se prende e desce boca abaixo, ora não se prende e enfia-se olhos adentro. Para quando uma máscara especial pessoas sem nariz? Fica a dica para o nicho;
8. Eu não tenho vizinhos fixes. Ninguém vai à janela bater palmas, cantar a ópera, sequer fazer uma escandaleira a pôr o cônjuge nas putas. Isto é uma desanimação. Fora a miudinha de cima, que tem para aí um ano e meio e passa os dias aos berros, e o de baixo, que tem um fato completo, com máscara e boné, pendurado na varanda (cruzes, credo, cada vez que saio para o passeio higiénico/compras/correr, apanho um susto, julgo que está um enforcado por baixo da minha varanda), nada se passa neste monstro de cimento que me dá tecto. Queres ver que tenho que ser eu a chegar-me à frente - à fachada principal, claro -, brindando-os com um faduncho, "Povo que lavas no rio"? É vê-los a despejar garrafas no vidrão, mas lá a serenata é que não sai;
9. Os carros precisam de andar. Não é só pela questão de não perderem a bateria, é por tudo. Os pneus vão abaixo, muito tempo parados no mesmo sítio. (Até ganham ervazinhas e florinhas bravas, fica ali uma bonita composição floral.) Se não querem dar uma volta ao quarteirão, não vá o vírus agarrar-se aos pneus e depois entranhar-se nas solas dos sapatos e logo a seguir entrar-vos boca adentro, ao menos andem para a frente e para trás com o carro no lugar onde está parado. Isto aprendi recentemente, por isso achei melhor partilhar, antes que fiqueis com os vossos pneus quadrados. Por acaso, ali numa perpendicular à minha, alguém deixou um carro (mal estacionado) há seis ou sete semanas, há-de ter a grata surpresa quando voltar. Bem feita, para aprender a pôr o carro dentro dos contornos. Aquilo é coisa para me provocar o TOC cada vez que vou à janela;
10. Não ver notícias é uma grande libertação. Aposto em como a minha tensão arterial melhorou bués. Depois daquilo do 25 de Abril/ 1 de Maio e das interdições nas praias, resolvi meter a cabeça na areia (não literalmente, com muita pena minha), a ver se consigo não me tornar uma pessoa revoltada com o Mundo.

10 comentários:

  1. Na minha clausura, procuro o que pelo menos me faça rir, uma forma de desopilar o fígado. Ainda bem que vim aqui, já ri que nem uma perdida, ai que bem que me sinto. Obrigada.

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    1. Obrigada digo eu, noname. Para alguma coisa têm que servir os meus desaires :)

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  2. Obrigado por pores em palavras o que me vai na alma...a comunidade agradece xD

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    1. Queres ver que me tornei uma influencer com isto da quarentena? :D
      Obrigada eu, querida

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  3. É tão bom vir aqui, que aquilo te provoca o TOC, a mim faz-me rir à gargalhada. Macaquita veio logo espreitar "estás a rir-te de quê? "
    Beijo Blue, vou pedir a macaquito que te cante um faducho ou qualquer coisa que o valha.

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    1. Ai, pede, Be, por favor! A pessoa nem uma quarentena igual às do estrangeiro consegue ter!
      Beijo, querida, beijinhos em macaquitos :)
      (Obrigada!)

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    2. Já seguiu para o email. Se ouvires na varanda, põe baixinho 😉

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    3. Eu vi, Be, logo no próprio dia, como sabes. Mas as vezes que venho ao blog só hoje permitiram que visse a tua resposta. Desculpa.
      Pus num som moderado, tocou alto no meu coração. Obrigada aos dois.

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  4. Aqui só se bateram palmas no início. 😉

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