15/12/2018

Lei da protecção de chatos

Era dia de festa, aula especial com a participação de um professor de outra modalidade que não tem nada a ver com dança, um garoto de uma simpatia absoluta, que nos ia (e nos foi) ensinar uns passos mais ou menos dançados de boxe, aquela competição do ringue. A professora do costume e ele, ambos de barrete do Pai Natal, a sala decorada com estrelinhas brancas, uma ambiência especial de alegria e espírito natalício, nesta altura somos todos mais amigos, mais solidários, mais pacientes, mais humanos. À primeira música, trinta pessoas dançando embaladas ao mesmo ritmo, entra uma outra instrutora, pega na máquina de fazer filmes e começa a usá-la. Há uma única pessoa que pára de dançar, se lhe dirige e diz qualquer coisa ao ouvido, então pára também a música e são dois no palco e vinte e nove na sala estáticos. A dita senhora explica alto que "não podem filmar sem a minha autorização expressa e escrita", oh, senhora, toda a gente sabe isso, tu queres ver que esta também parte a máquina aos parentes na consoada, não querem lá ver que temos aqui uma rezingona que expõe a desinteressante vidinha toda no FB, mas depois acha-se ofendida por estar a ser filmada num ginásio que frequenta publicamente, que nada fará com a porra das imagens, a não ser uma divulgação interna ou uma exposição num site fechado, filme no qual ela, com toda a probabilidade, não aparecerá, mas que não, ai a mim ninguém me filma se eu não deixar. E a boa da titcha a dizer que então paravam as filmagens e não se falava mais nisso, mas era só o que faltava, meta lá a câmara ao alto e filme-nos lindas, leves e louras, cantarolou a inconveniente do costume, a rabujenta saiu e nós continuámos sem ela, que nem lugar vago deixou, quanto mais memória, e fomos filmadas no melhor da festa, que dos desmancha-prazeres desta vida não reza a História, fazendo tábua rasa da lei da protecção de dados chatos. 


4 comentários:

  1. Até sou solidária com a chata sabes? Sei que o pessoal hoje em dia paga mais pelas calças do ginásio que eu pago de aquecimento em casa, e até maquilhagem própria aplicam, mas eu não sou dessas. Nos tempos em que ia ao ginásio (há 20kg atrás) ia para lá suar as estopinhas nos meus trapos confortáveis e pouco sexy e só de pensar tirar uma foto já ficava arrepiada, qto mais me filmarem?? Nem pensar... fugia dali logo.

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    1. Pois, percebo. Mas era uma aula de dança, era um dia festivo, toda a gente estava avisada que ia ser uma aula diferente. E entendo as dúvidas dela, só não entendo que o argumento, numa circunstância daquelas, fosse a lei. Parece que é um assunto que só alguns dominam, como se não fosse do conhecimento comum a história da captação de imagens. Enfim :)

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  2. Anónimo24/12/18

    Costumo, até, estar de acordo contigo na grande maioria das tuas maravilhosas observações e considerações sobre a vida em geral e a estupidez da pessoa humana em particula, mas.
    Mas, desta vez, não. Detesto que me filmem, particularmente, quando em circunstâncias pouco abonatórias, como por exemplo, a fazer desporto num ginásio. Mais do que mau-feitio da pessoa humana em questão, acho deselegante por parte do ginásio sacar da dita máquina e começar a usá-la nas pessoas sem para isso solicitar permissão. Ninguém sabe o que se passa com cada um e os motivos que levam a que a pessoa humana em causa se recuse a ser filmada. Por isso é que se chama reserva de direito à vida privada, mesmo que num sitio que sendo público, o acesso é condicionado por direito de admissão.
    Assim, se fosse comigo, ia pedir o meu dinheiro de volta e ia "dançar boxe" para algum lado mais recônditozito.
    Bom natal...fuck yeahhhh!!!

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