15/10/2018

Manual de como se ser um mau vendedor em alguns passos

Vou com a finalidade de fazer meu um vestido, que encontro logo num dos primeiros expositores. Existe em vários números — 46 incluído (boa tenda de campismo, não fora a intempérie que se faz sentir no momento presente) —, mas autodetermino-me que o 38 é demasiado grande e largo para a minha silhueta, verifico que o que está na boneca é o 34, e convenhamos (para além do que a boneca é uma boneca, e tem medidas surrealistas, avaliadas por alto em altura de 1,85 metros para, se fosse de carne e osso como as pessoas não bonecas como a pessoa, uns 45 quilos mal pesados), portanto, quero o 36 para me vestir. Ora, é precisamente o que não está à venda. Dirijo-me à única criatura viva que se encontra dentro do grande armazém, temerária de ouvir a resposta só há o que está exposto, mas recebo, ao invés, O sistema diz que ainda há dois 36 em loja. A senhora dirija-se a uma das minhas colegas e pergunte onde é que eles estão. Eu bem me dirigi, mas, como as colegas do rapaz não existiam, rodei o calcanhar e a baiana e ala que se faz tarde, fiquem lá com os vestidos 36 todos para vós, e fazei-lhes bom proveito, que eu cá deixei agora de gostar deles e lembrei-me que tenho um tacho ao lume e passe bem.
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Vou com a finalidade de fazer de uma amiga um pequeno (porque a minha amizade e o meu coração são enormes, mas o meu porta-moedas até parece que encolhe) frasco de perfume, mas a que me atende esclarece-me que se tratava de uma edição limitada e, portanto, ao atingir o tal limite, já não existe. Sim, eu tenho uma pontaria tal que, se mandasse uma lança, acertaria em África com toda a certeza. Resolvo então correr a loja, em busca de algo parecido, que a faça igualmente feliz. É então que o ser vivo tem a luminosa de, do nada, me bombardear — quase literalmente — com um produto novo, uma maravilha de perfume para a casa, que se liga a uma aplicação no telemóvel, e também ao wi-fi de casa, que eu posso controlar remotamente, ligar quando estiver a chegar a casa, desligar a partir do Samouco, em lá estando (claro que isto é exemplo meu), toda uma festa aromática de controlo remoto, em que sou eu que mando nos momentos em que a casa cheira bem ou não. À concreta pergunta, Quanto é que isso custa?, vai ela e diz assim: Neste momento, em preço promocional, são 129 euros. [Eh, pá, eu tenho cara de parva, só pode. Ou de rica.] Foi quando soltei a varina que jaz amordaçada e amarrada nos confins mais recônditos do meu basfond e lhe respondi: Está a gozar, ou quê? Então eu entro aqui para comprar um perfume para uma amiga e você desata a tentar impingir-me um perfume para a minha casa que custa cento e trinta euros? (Arredondei, eu sei. Mas a situação exigia-o.) Lá tive que rodar tudo outra vez, calcanhares, baiana, pescoço, foi tudo, e ala, inshallah não me aborreçam mais com peditórios destes.

Porta-moedas - 2; Vendedores não empenhados - 0.

4 comentários:

  1. Durante anos, acontecia-me procurar livros em livrarias, na maioria dos casos não os terem disponíveis para venda e nunca me ser perguntado se quereria que encomendassem ou sequer tomassem nota, para -- sei lá -- saberem que havia procura para um dado livro.

    Agora, na maioria dos casos, já não me dou ao trabalho: encomendo "online". Creio que muito mais gente terá tido tal experiência, e feito idêntica mudança.

    Hoje, a Sears, o mais antigo retalhista americano, que chegou a ser o maior empregador da América, abriu falência. É um sinal dos tempos.

    O mundo mudou, os clientes esperam um nível de serviço diferente, porque o têm à distância de um clique; esses próprios vendedores o esperarão como clientes, decerto, mas ainda não lhes caiu a moeda (nem aos gerentes das lojas, na verdade, porque continuam a permitir esses comportamentos, ou a estimulá-los até, nalguns casos).

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    1. Livros e praticamente tudo o resto que se possa imaginar (a mãe incluída, como há uns anos, no Ebay), épossível comprar online. Por isso, e com esta qualidade de serviço (os comissionistas não são em nada melhor preparados do que os não comissionistas), o que me admiro é que ainda haja lojas físicas. No meu exemplo, tanto o vestido como o perfume (e até o zingarelho para perfumar a casa) podem mandar-se vir a casa, sem transtornos nem interacções com pessoas aborrecidas da vida. Só me questiono o que é que esses vendedores, enquanto clientes, esperarão. Eventualmente, serão os mais críticos e os mais exigentes.

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  2. Eu admito que Tenho sausages das lojas do antigamente. Em que o lojista conhecia o stock de trás para a frente e sabia de facto aconselhar para as nossas necessidades.

    E admito que, por muito que use quase diariamente, não gosto da Amazon e tenho asco ao modelo de negócio que fez o homem mais rico do mundo à custa de escravatura humana por salário miserável.

    Ha uns tempos andamos a comprar carrinhos de bebé... ainda é o tipo de coisa que é preciso experimentar para ver. E invariavelmente ouviamos "ah esse só na net" - será que é recomendado gastar £1,000 num carrinho comprado online que depois de 2h de montagem a gente percebe que nem o consegue meter no carro?

    E quando perguntamos: "tem este equipamento e aquele... qual é a diferença?" "ah... nao Sei....deixe ca ler a etiqueta" Ler a caixa tambem eu sei, ainda vejo bem e não sou analfabeta. Quero é saber as praticalidades do produto e não há um empregado que saiba.

    E quando somos nós que temos que explicar ao senhor do "leroy merlin" da zona que o candeeiro que queremos está em stock sim senhora que vimos online e telefonamos a confirmar antes de ir à loja?

    Estou velha sabes. Daquelas que prefere pagar um hotel aos airbnb e um taxi ao uber. Estou farta de tanta modernidade que so me estraga a experiência como consumidora em prol de um serviço instantâneo e conveniente que de serviço não tem nada.

    Rant over....e podes passar para cá o 46, obrigada, que eu engordei muito com a depressão pós-parto! Eehe

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    1. Sendo assim, também estou velha. Essencialmente, tenho saudades (sausages, eu percebi que foi o corrector :)) de ser bem tratada. De entrar numa loja e não ter que me deitar a adivinhar se a pessoa que me vai receber está ao telefone, de mau humor, com o período ou só embirrou com a minha cara. Eu não espelho as minhas emoções a quem me atende; não seco a paciência a ninguém com a minha vida. Façam-me o mesmo, por favor. Eu só quero entrar, escolher, pagar e trazer. Não quero ter que fazer psicanálise de pacotilha a todas as dezenas de pessoas com quem me cruzo por dia, se também não as obrigo a levarem comigo. Simples, isto.
      Isso do engordamento pela depressão pós-parto passa :)

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