30/10/2024

Ainda falta um ano para acabarem os sete de azar

A minha casa está sistematicamente em obras. Em trinta e um anos e meio já sofreu — e nós com ela — três intervenções cirúrgicas, sendo que a única que correu bem foi chefiada por um senhor que morreu entretanto. Foi precisamente nessa obra que se partiu um espelho enorme: pousado numa das varandas, levou com uma rabanada (aí o Natalinho…) de vento e fez-se em cerca de dois mil cacos. Isto ainda foi só há seis anos. Depois dessa, sofremos solidariamente outra obra o ano passado, por conta — mas à nossa conta — de dois jeitosos, que percebiam tanto de infiltrações como eu da apanha da pêra, e que nos fizeram entrar em casa sei lá se quinhentos ou mil litros de água, não fora sofrer dos nervos e teria pegado na prancha de surf do rapaz e faria a minha incursão na modalidade contra aqueles dois calhaus com olhos, “Ai sióra, isso é norrmau, já aconteceu e vai voltar a acontecerrr”, que giros.

Uma filha voltou para o lar, pois estava a morar no Bairro Azul, numa casa linda e excelente, não fora escorrer água pelas paredes e o covid que ela teve em 2021 não permitir brincar às saunas do terceiro mundo. Portanto, regressou com dez sacos daqueles que agora se usam para as compras, cheios de roupa enrolada como faz aquela anaconda das arrumações, que põe tudo em rolinhos. Fazia-me isso às minhas roupas e engolia logo um conjunto de lingerie, só para ver se gostava assim tanto de rolinhos.

Hoje acordei e fui à cozinha do lar para ver em que pé estava aquilo a que cônjuge chamou “uma inundação”, embora fosse uma gota de água a escorrer lentamente nas costas do despenseiro. Pelo caminho, por uma mínima tangente que não pisei vomitado de uma das gatas. Não sei se era essa que estava a comer da taça quando entrei na fábrica das papas. Subitamente, virou-se para o lado e vomitou. Antes de tomar banho, já tinha limpado duas vomitadelas. Na passadeira, verifiquei a presença de um ovo castanho e julguei que era chocolate. Já ia pôr-lhe a mão quando o cosmos me disse: “Lindíssima, isso é m.”. Brigadas, fico a dever-te uma, que pagarei sei lá como.

Chamei os senhores da obra do prédio, que também está em obras, para além da casa da vizinha do lado, para verem a gotinha parede abaixo e eles avisaram-me que é preciso rebentar com a parede da cozinha para mudar a canalização, uma vez que está toda podre. Lembrei-me do prédio dos meus pais, que tem cinquenta e oito anos e está ali para lavar e durar. Hoje em dia, parece que as casas são feitas com uma argamassa de areia da praia e bolacha de água e sal, que apodrecem por dentro como eu quando estou de mona.

Passei a manhã a carregar caixas de roupa para a arrecadação. Destralhei talvez vinte pares de sapatos (quatro por usar, três usados uma vez — magoaram-me, cortei logo relações), que farão a festa de amigas das minhas raparigas e, depois de triados até ao limite, da que fala que se desunha. Não posso meter stilettos nos contentores de roupa. Aquilo são autênticas armas de vazar vistas.

Depois caí no sofá a arfar. Resolvi não ir à dança porque não. Só que tentei desmarcar demasiado tarde e fiquei penalizada. Agora não posso marcar aulas durante três dias. Forniquem-se. Vou sem marcação, quero ver quem me barra as piruetas.