Consulta de Fisiatria: a ver se não é preciso fisioterapia, para não ficar com um braço mais gordo do que o outro. Só me falta mais essa. É acontecer-me semelhante desgraça e passo a levantar diariamente pesos com o outro braço, para ao menos ficarem iguais.
O hospital é um labirinto, projectado por um arquitecto esquizofrénico, penso eu de que, enquanto percorro quatro corredores, dois em cada piso, e de já ter apanhado, pelas minhas contas, dois elevadores. Isto, depois de ter ido bater a duas portas que não abriam e tocado a uma campainha que não funcionava. Enveredei então por um outro corredor, onde não se via uma alma viva, mas se ouviam martelos e marteladas. Uma voz, atrás de um guichet escondido num canto escuro, perguntou-me para onde ia, respondi que para a Medicina de Reabilitação (não me lembrava do nome da médica), e a pessoa disse-me que era lá ao fundo do corredor, depois das portas automáticas, e que eu seria chamada pelo nome (que ela não perguntou qual). Percorri aquilo, não passei por portas automáticas nenhumas, mas sim por uma obra a céu aberto, uma parede destruída que dava para a rua, que local tão seguro. Sentei-me quietinha quando vi umas cadeiras, embora continuasse sem ver uma pessoa para amostra. Ao fim de quinze minutos, abre-se uma porta e surge a médica, muito sorridente, muito simpática, muito faladora. Cansou-me a beleza, falou durante meia hora seguida. Mediu-me os braços, deu-me a grande novidade de que eles são milimetricamente iguais (o que eu considero bastante anormal, visto que todos temos assimetrias por todo o corpo. Devo preocupar-me?), mandou-me fazer uns exercícios em casa para a mobilidade do braço e chutou-me para a próxima consulta, em Outubro. Saí de lá exausta, mas — e talvez por isso — consegui atingir a porta da rua sem me enganar no labirinto.