01/02/2021

Quando os teus sonhos se tornam realidade. Ou não, oh não.

Uma destas noites, deitei-me convencida de que já não tinha, na abarrotante gaveta dos collants, qualquer par cor de pele, ou melhor, da cor da minha pele, pois o conceito abrange todo um pantone, desde a alvura nórdica ao castanho africano, entenda-se. 

Fazem-me falta collants "transparentes", principalmente para os colocar debaixo das calças mais curtas, para que aquele bocadinho de pele que fica à mostra não ande ali à vela e não rape um frio dos ananases e, por consequência, não seja responsável pelo arrefecimento de todo o resto dos 95 % do meu corpo.

Os dois pares que tinha encontravam-se no processo vai e vem para e de lavar, de modo que, angustiada com a impossibilidade de, no dia seguinte, não ter meias para tapar os artelhos, até dormi mal. Sonhei que só tinha collants pretos para os tapar, e que, considerando a hipótese de ir à loja comprar da cor pretendida, logo tive que a desconsiderar, pois se encontrava encerrada, à espera de melhores dias. Tudo muito realista, portanto. 

Pela madrugada, que é quando afasto as pestanas superiores das inferiores pela primeira vez após escasso repouso, quantas vezes ainda nem o sol deu sinais, eis que me agarrei a Ai-fostes, abri a página da loja de collants, encomendei logo três pares, para que nunca me faltassem, paguei-os e, se não o corpo, pelo menos sosseguei o espírito. Porém, só até ao momento em que, ao abrir a dita gaveta no intuito de procurar alternativa aos da cor da minha pele (bege vulgar sul da Europa, nem alva nem castanha), me deparei com mais dois pares da pretendida cor, dobradinhos e limpinhos.

Conclusão, retirada de um ditado chinês: não sonhes nada aos dezoito, que aos trinta terás realizado. (Ai não é assim? Não se aplica? Aplica, sim senhora, mutatis mutandis.)



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