em que dás entrada numa biblioteca municipal, pedes para requisitar um livro e é toda uma aragem gelada que te envolve, não só porque o espaço é frio - empedrado e branco -, como também porque as funcionárias hão-de ter sido retiradas de um qualquer filme britânico de crime e mistério, e é sempre um pesadelinho cruzar aquele portão: porque respondem ao teu boa tarde com um suspiro em forma de peido-mestre, porque ficam soberanamente contrariadas com o facto de - imagine-se - requisitares um livro, porque os entraves são sempre tantos, que só te apetece desistir antes de entrares. Desta vez, saíram-me na rifa duas senhoras sem idade, uma gorducha de cabelo roxo e raiz branca, a outra directamente sacada de uma sacristia, a rata, esganada, ossos malares proeminentes, óculos de massa grossos, cabelo fino colado ao crânio, em nada me surpreenderia se sacasse de uma navalhinha enquanto se benzia e me dissesse: "Vou cortar os pulsos, só ainda não decidi se os meus ou os teus".
Chegadas mais ou menos a acordo quanto ao livro e remota possibilidade de o transportar dali para fora - porque há que preencher uma ficha com o nome do requisitado, editora, nome da requisitante, contactos, apresentação do cartão de cidadã, e mais mil vénias e continências, diz-me a mulher de cera, com o cabelito colado à testa, a escorrer gordura:
Não sei se conhece as novas regras aqui da biblioteca.
Cá para mim: "Queres ver que ainda tenho que fazer o pino contra a parede e depois resolver um problema de Física Quântica?".
Não sei, não.
O livro que a senhora requisitou está numa estante, dentro de uma sala considerada contaminada...
[Atónita. Exangue.]
... porque tem pessoas.
"Ah, as pessoas humanas..."
"If there's something strange in your neigborhood | Who you're gonna call?"
Então, o livro vai ficar de quarentena durante três dias.
"Espera. Pára tudo. Morri e vim parar ao inferno. Esta é a Belzebona."
E daqui a três dias, a senhora recebe um mail, a dizer que já pode vir levantar o livro.
"Todo descontaminado, todo expurgado, limpo, casto, oco."
Ah, muito obrigada, muito boa tarde.
Claro que não vou levantar o livro livre de contaminação. Livra!
Isto é real????? :o
ResponderEliminarEsqueci-me da etiqueta "A minha vida dava um filme de David Lynch". Mesmo real. Esta minha capacidade para atrair chanfrados devia ser estudada :)
EliminarOMG :) :) Fartei-me de rir :) Beijinho para si e compre um detetor de chanfrados :)
EliminarAo menos que os meus desaires sirvam para alguma coisa de útil :D
EliminarVende-se na wish?
Beijinhos :)