No jardim público, um grupo de idosos, naquela faixa etária que ainda não merece ocupar a categoria de velhinhos, mas que já são velhotes. Aqueles mesmos que ainda se sentem aí bons para as curvas (geralmente não para as das respectivas esponjas), os que calçam o téni e vestem o calção e se sentem imediatamente uns rapazes. Estavam todos devidamente afastados uns dos outros, recebendo aquilo que me pareceu ser uma aula de, vá, ginástica. E digo vá, porque enfim, o exercício constituía em colocar as mãos na cintura e, pelo menos naquele momento, rodar as ancas - ora para a direita, ora para a esquerda. Ginástica respiratória, é isso. Imagino a pequena fortuna que o instrutor - também ele um ancião, mas claramente com um ascendente qualquer sobre a pequena multidão (Diz que é coacher? Pilateiro? Tai Chi português?) - pede aos incautos que o seguem naquela filosofia de vida. Então, vou a passar, não que o atalho me fique em caminho, mas porque a minha vida não pode ser uma linha recta, com aquele ar de “Desculpem lá interromper a lição, só cá vim saber se têm um apagador a mais”, e ouço o mestre dizer o seguinte: “A mamória RAM...”. E era ter imaginado que havia ouvido mal, mas o homenzinho corrigiu-se de imediato, continuando a prelecção dele num sentido que deixou de me interessar assim que os meus pés me afastaram dali: “A memória RAM concentra-se toda aqui...” - não olhei para verificar em que parte do corpo considera a criatura que se concentra a RAM - “... é a memória que se plasma no tampo da secretária”.
Olha que bem visto. Olha que dinheiro tão bem gasto. Olha tanta Polícia distraída de charlatanices.
Por acaso - porque tenho um TOC, acho eu - até contei as cabeças. E não eram treze?
Ai, os jovens, que se juntam em grupos de mais de dez, a ver se enchem isto tudo de covid! (Pronto, numa acepção muitíssimo alargada da noção de jovem.)
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