Aquilo era um dia de sol, dos raros que têm sido nos últimos tempos.
À porta do prédio, agarrada ao vidro, vi uma borboleta pequena e pouco bonita. A pobre, como todas, não tinha capacidade para entender a barreira não natural e transparente — para ela, invisível, até — que a separava do sol. Com um papel que encontrei na mala, procurei arrastá-la até à porta aberta. Pousou na minha manga e, assim, levei-a até ao exterior. Partiu, voando, sem adeus nem obrigada. Também eu não lhe disse adeus, só com o olhar, o que não conta, e fiquei a tautear 'How to save a life'. Não tem nada a ver, didn't go wrong, didn't lose a friend, mas lembro-me sempre.
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O homem tinha dito que, quando a gata emprenhasse, a doutora ia mandar tirar.
Naquele dia, agarrei-a mais uma vez, como minha que não é, mas assim a sinto, quanto mais não seja só por um bocadinho. Chega-me essa migalha, e sabe-me por um pão inteiro.
Disse a senhora que ela já está à espera.
A doutora vai deixar ter?, era eu, sem acreditar que o homem confirmasse.
Ai, não vai, não, vai mandar tirar.
Ai, não vai, não, isso pensas tu.
Telefonema para a doutora,
Desculpe, sinto-me uma pet lover ridícula, mas alguém é capaz de fazer semelhante crueldade àquela gatinha?
Pois que não, que fique descansada, é claro que não, ai, não vai, não, não vai mandar tirar.
How to save some lives.
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Devia deixar de comer carne. Isto é uma hipocrisia como outra qualquer.
Mas e o que eu adoro a chuleta do boi, a perna do borrego, o leitão assado, as plumas do porco preto, o frangote no churrasco? Oh pá, preciso de ajuda! Algum Carnívoros Anónimos?
Carnívoros anónimos?! ahahahhahahah
ResponderEliminarEu percebo-te, também me faz confusão. Quando a avó de pai macaco me perguntava se queria uma galinha, coelho, etc para trazer, eu respondia sempre que só se estivesse na arca (sem pêlo ou penas), caso fosse para ir matar à minha frente eu não era capaz de comer.
Já me sinto tão estranha e hipócrita por ter dois pesos e duas medidas, Be. Então se me dessem animais vivos, nem pensar em deixá-los serem mortos. Dou-lhes logo nome e afeiçoo-me. Transformei-me numa requintada porcaria desde que fui mãe :)
EliminarTambém precisava :/
ResponderEliminarOutro dia vi no hiper cordeiro de leite, embalado, e quase me vomitava. Mas ainda como carne. Cada vez menos, e com maior sentimento de culpa.
(porque é que essa gente não esteriliza a gata de uma vez? caneco!)
Aconteceu-me exactamente o mesmo com o leitão: inteiro, congelado, embalado a vácuo, juro que parecia uma criança morta, por mais ridículo que isto possa parecer.
Eliminar(Diz que vai esterilizar quando ela parir esta ninhada, o que, a ser verdade, é perfeito. Espero que não me andem a enrolar só para me calar. A bicha é um mimo.)
Sofro do mesmo mal, ou seja, o anjo que mora em mim manda - me fechar a boca com pena dos bichos enquanto o diabo manda - me lambuzar com as costeletas de borrego como se não houvesse amanhã. Ou com o leitão assado. Ou com o franguinho à Guia.
ResponderEliminarAdivinha lá quem ganha sempre? Exato.
Portanto a culpa não é minha mas sim do demóine que habita em mim.
Só há uma coisa em que sempre me custou ferrar o dente: Coelho.
Quis o destino que há uns anos me apaixonasse por um que vive até hoje cá em casa feliz e contente.
Se pensares em fundar os carnívoros anónimos tens aqui uma inscrição.
Esse démoine habita no nosso nariz, que, por sua vez, estimula as glândulas, a pessoa saliva-se e temos a burra nas couves. Tudo seria muito mais fácil se não tivéssemos nariz. A boca só se abriria para respirar.
EliminarEu também não como coelho. Assemelha-se demasiado a gato e, por outro lado, é um fofis que nos traz ovos de chocolate aquando desta época.
:)
A sério, não como porque nem sequer gosto muito. Há uns anos, a minha irmã encontrou uma bala no prato dela, e isso foi um turn off para as duas. Fora fuzilado, o pobre.
Serás a sócia número 1 (eu posso ficar com o 0). Já preparei a primeira sessão: "Olá, eu sou a LB e tenho um problema".
eu tenho mais que um, pois não sou de misérias, daí que, independentemente do número que me atribuírem nos "carnívoros anónimos", quero ter direito a falar sobre carne e derivados e preparados de carne picada. é preciso organizar por temas?
ResponderEliminarComo preferires, Mia. Por mim, até podes desabafar (em rodapé e tudo) o que te for na alma, sem rei nem roque, desde que contribuas para A Luz! :)
EliminarQuerida Linda Blue,
ResponderEliminarNão quero entrar para o clube dos CA, mas posso dizer que já há muito tempo que deixei de comer carne e não sinto falta nenhuma. Ao princípio custa, mas ao fim de um tempo, habituamo-nos e nem pensamos nisso. Penso sim e frequentemente no sofrimento dos animais que nos irão servir de alimento...
E como adoro animais, seria uma grande hipocrisia da minha parte fazer o contrário...
Infelizmente, tenho lá em casa quem não partilha destas minhas "manias" e, como tal, tenho de comprar e cozinhar a dita carne (no entanto, coelho, leitão, cabrito, borrego e vitela de leite, recuso-me terminantemente). E os nervos e tristeza que isso me causa nem quero nem falar.
Em relação à gatinha, só acho bem não tirar se os seres que daí resultarem tiverem uma existência decente garantida, porque se forem para sofrer e andarem ao abandono, já bem basta aqueles que andam por aí aos milhares em sofrimento por esse país fora.
Infelizmente, e por muito que me custe, com o país e mentalidades que temos opto por ser pragmática.
Na verdade, eu também não como assim tanta carne. Mas como, e sabe-me bem. Assim como também adoro peixe (que não deixam de ser animais), vegetariano, sushi nem tanto (já gostei muito mais). Aliás, acho que gosto de tudo o que é comida, excepção feita a fígado (seja de que animal for). Tenho a certeza que poderia não comer carne para o resto da minha vida, sem grande esforço, ou só com umas saudades de vez em quando. Tenho que ponderar melhor o assunto. O respeito pela vida é a pedra de toque na mudança de mentalidades, o resto são hábitos, que facilmente se alteram.
EliminarOs filhotes daquela gatinha terão um lar com toda a certeza. Ela é muito jovem (< 1 ano), deverá ter uma ninhada de 3 ou 4, e haverá sempre quem os queira. Tomara eu ter tido oportunidade de deixar as minhas terem uma ninhada e amamentarem antes de as mandar esterilizar. Mas não havia gato :)