Que vejo um saco de papelão, cheio de coisas lá dentro, despejado no meio da estrada (sim, pois, ainda agora...), um saco do Mc com seu respectivo lixo, e, ao longe, no relance da corrida do carro, me parece um cão? Até completo o filme: um pequeno labrador bege, enrolado e morto, apenas uma criança? E sofro ali uns instantes.
Que vejo um trapo preto caído na berma e me parece um gatinho pequenino, enrolado e morto, também ele apenas uma criança? E dá-me um frio na barriga, uma pancada na cabeça.
Que vejo um trapo, um desperdício daqueles da mecânica automóvel, à beira-passeio, e me parece um cão, um gato, não sei como não uma ovelha, ou 'ma velha, mas não, pois talvez seja pequeno demais para isso? E é o susto, o calafrio.
Que vejo um saco de plástico com um conteúdo qualquer (lixo orgânico? Roupa suja? Um tricot inacabado? Uma feze?) atirado para junto de um vidrão (expliquez-moi cette bêtise), e acho logo que pode estar um animal morto lá dentro? E viro a cara, para evitar prolongar o nefando momento.
Que vejo qualquer molho de penas amontoadas num recanto da sarjeta, e tento adivinhar se foi em tempos idos, porém recentes, o canário, o periquito, o bico-de-lacre, o papagaio de alguém, evadido das grades e correntes que o detinham, e cuja breve liberdade se transformou num voo picado com aterragem esmagadoramente infeliz? E "ai-não-quero-olhar!".
Que vejo um saco de plástico com um conteúdo qualquer (lixo orgânico? Roupa suja? Um tricot inacabado? Uma feze?) atirado para junto de um vidrão (expliquez-moi cette bêtise), e acho logo que pode estar um animal morto lá dentro? E viro a cara, para evitar prolongar o nefando momento.
Que vejo qualquer molho de penas amontoadas num recanto da sarjeta, e tento adivinhar se foi em tempos idos, porém recentes, o canário, o periquito, o bico-de-lacre, o papagaio de alguém, evadido das grades e correntes que o detinham, e cuja breve liberdade se transformou num voo picado com aterragem esmagadoramente infeliz? E "ai-não-quero-olhar!".
Que vejo um pombo assassinado asfalto afora, ainda uma asa no ar, tamanha foi a traulitada, e, ainda assim, também me condoo?
Que vejo um rato esmagado [percebe-se que é um rato derivados da cauda, que fica sempre inteiriça] algures no passeio (esta cidade é uma verdadeira metrópole, há um nico de tudo) e penso "ai-coi-ta-di-nho"?
Que vejo, vá, qualquer manchinha na estrada, e já acho que vou assistir a uma imagem traumática, que me perdurará por tempos infindos até me esquecer de mim e de tudo, mas daquilo não?
[Lisboa é uma cidade tão suja. Isto sim, dói-me dizer, mas é tão verdade.]
Que vejo, vá, qualquer manchinha na estrada, e já acho que vou assistir a uma imagem traumática, que me perdurará por tempos infindos até me esquecer de mim e de tudo, mas daquilo não?
[Lisboa é uma cidade tão suja. Isto sim, dói-me dizer, mas é tão verdade.]
Não é só a Linda...
ResponderEliminarO que descreve é uma fotocópia daquilo que sinto.
Dói tanto...
E quando constato que não se trata de lixo, o meu coração morre mais um pouquinho :((( Infelizmente, isto acontece demasiadas vezes...
Grace
É verdade, Grace. Por isso não descrevi as vezes (demasiadas) em que o meu susto tem razão de ser. Fico mortificada. Imagino sempre donos à procura e, quando encontram, o que sentem :/
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