02/03/2014

A economia começa, subitamente, a mover-se

Estava eu cá muito sossegada no meu cantinho, a fazer os trabalhinhos à medida que eles iam surgindo, e surgiam ao pinga-pinga, tão devagarinho que, se dependesse deles para comer, morria de fome, e eis que me aparece, caída dos céus aos trambolhões, a oportunidade que eu devia esperar e desejar mais desde Julho do ano passado, que foi quando aquela fábrica/mina/salão/oficina/senzala me pôs de lá para fora a correr, mas é que não, estava-me a saber tão bem a vida mansa, a contar os cêntimos, mas mansa, dona do meu nariz que é tão bonito, só que os tempos não estão para virar costas a trabalho, não vá ele dar-nos uma encavadela por trás ou coisa bem pior, vai daí fui a uma entrevista no próprio dia, nem tive tempo de olhar para mim, só de vestir um vestido decente, menos curto, sem decote, nem tive tempo de arranjar as unhas, foi de quarta ou quinta camada em cima do lascado e ainda udi uma pelo caminho, lá subi até ao 17º andar com uma unha cheia de nhanha de verniz e a ver ao espelho que ia só com cara de parva, o cabelo numa merda, mas a pressa era tanta, estamos aflitos, precisamos de si, venha rápido, quando é que pode começar, pode ser já na segunda-feira, ordenado catita, melhor do que na fábrica/mina/salão/oficina/senzala que me pôs de lá para fora a correr em Julho, odiei o horário, que prisão, nem tudo podem ser florzinhas, bem me queria parecer que tudo tão bonito, Lisboa de um 17º é tão bonita como da ponte, do avião, à noite e de dia, tinha que ter um defeito, ai eu o horário é que acho muito angustiante, ai então ajustamos isso, mas venha na mesma, está oquei, então até segunda, chipça penico, domingo inteiro dedicado às unhas, aos autefites de gaja laboreira, é amanhã, dia 3 de Março de 2014, que começo uma etapa, raios, nem é nervosa que estou, já não tenho idade para me enervar por tão pouco, é mesmo é puta da minha vida que estava eu cá muito sossegada no meu cantinho.


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