04/05/2023

Só mudam as moscas

(Hah, achavam que a pessoa humana, por uma vez, ia falar sobre política? Também serve, é lerem este texto como uma metáfora. Não sei como, mas deve dar.)

Meu recém-nascido cabelo tem vindo a medrar, mas, como encaracola, vejo-me na contingência de o prender à frente com molas pequeninas, aquelas a que os brasileiros chamam piranhas, mas, como são mesmo de tamanho mínimo, eu chamo-lhes moscas. Ando com a cabeça cheia de moscas, ao todo cinco, mais dois ganchos, quando não três. Caso contrário, ficaria a filha da Lara Li com a Simone de Oliveira, que é como durmo. (Ninguém dá o devido valor aos homens.)

Outro dia perdi uma das minhas moscas, procurei por todo o lado e nada dela, “Olha, bateu asas e voou”, como o meu coração ateu. Substituí-a por uma de reserva e não pensei mais nisso. Hoje vesti uma blusa preta, rendada, com meia gola que me custa a passar na mona como um parto natural em que eu sou o nascituro, e vejo uma das moscas presa perto do ombro. Achando eu que era uma das que tinha acabado de pôr, procurei na cabeça, no meio do enxame, e estavam as cinco, todas tortas derivados à violência do parto, mas eram cinco. Ou seja, a mosca perdida agarrou-se com unhas e dentes à minha blusa, que foi à máquina, foi estendida, recolhida e dobrada (não necessita de ferro) sem que aquela que me serve há anos nas lides a tenha visto. Fala bastante, e isso impede-a de prestar atenção a minudências. Eu, por mim, limitei-me a mudar o nome de mosca para carraça às minhas molas.