31/01/2023

Esvaziada

Dizem eles que isto é o “síndrome (ou fenómeno? Ou dor?) do ninho vazio”, que sabem eles do que significa o momento em que o teu primeiro amor pequenino sai pela porta da casa que a viu crescer dentro de ti, parece mesmo que choram as paredes, e tu agora a tremeres das asas que a envolvem, ela tremendo as asinhas aninhadas nas tuas, saiu de ti e coube sempre inteira nos teus braços, que hão-de ter esticado ao longo do tempo, ambas sem saberem muito bem como — e também porquê — segurar o que os olhos teimam em deitar, vai agora experimentar o Mundo sem que possas picar o teu voo para a apanhares se ela for a cair, sem os beijos da noite e os sorrisos estremunhados da manhã, vai também ser feliz no ninho que construiu com mérito, talento e esforço, devias estar a rir, e até estás, há um peito cheio de ar puro, orgulho e boa esperança imediatamente abaixo dessa garganta apertada de medo e saudades, já.