05/04/2021

Hão-de chamar-me mentirosa a vários níveis. Pois que arrisco

Confinada e de ginásio fechado, desenvolvi as minhas corridas para patamares nunca antes vistos e ou alcançados. Detentora do melhor par de ténis de que há memória no meu cérebro - Nike Pegasus* cor-de-rosinha, e este último pormenor pode ser, de todos, o mais importante, pois que até a cor pode estar a contribuir para a minha actual aerodinâmica - e da calça elástica mais modeladora em que algum dia espremi os chispes - Tezenis* -, de metro a metro fui acrescentando, domingo após domingo, e eis que ontem perfiz os sete vírgula cento e noventa quilómetros. Sem grande esforço, sem maior cansaço do que aos cinco que constituíram a minha meta máxima nos últimos anos. É claro que, antes dos sete e depois dos cinco passei pelos seis. O segredo são os ténis do meu coração, as calças da minha vida e uma granda pastilha de magnésio no fim, uma vez que já não vou para nova e não tenho rigorosamente tempo para sofrer de dores a seguir e nos dias seguintes. Essencial ainda, um bom aquecimento e prolongados alongamentos, dois espectáculos que forneço semanalmente à vizinhança ali no espaço de cinquenta e cinco minutos. 

Tenho agora como meta os dez quilómetros de uma corrida que tem sido sistematicamente adiada à cause du virus.

Diz que o pessoal que pratica corridas se flatula alegremente, embora desconheça com que cadência, ou seja, de quantos em quantos metros lhes ocorre, ou se se trata de um sistema aleatório. É que - e também parece mentira - eu não. Não, não mesmo, nem uma vezinha para amostra, um criminho solitário quando não vai ninguém a passar, zero, neruscas de piripitibas. Começo e acabo a tarefa seca e limpa nesse campo, nem pela cabeça me passam os ares, quanto mais lá por baixo. Em compensação, arroto bastante, embora de forma não sonora, lamento. Ontem contei cinco, o que não chega sequer a um por quilómetro. Por mais que intervale entre o pequeno-almoço e o início da corrida, ali ao fim dos primeiros cem metros lá me vem a acidez, mas que pode ser derivadas de já ir irritada com os transeuntes domingueiros, que parecem todos vir ter comigo para me pedir uma informação, tamanha é a incapacidade que demonstram em desviar-se da minha rota. Depois dou ali mais quatro arrotitos e está a corrida terminada. 

Ou seja, funciono a gás, como todos os corredores de maratona, mas a mim saem-me pelo sótão e não pela cave, como diz o povo na sua imensa sabedoria. 


*NMPPI


2 comentários:

  1. :-))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))) oh pah....tão bom!!

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    1. :)
      Obrigada, Lili.

      (Sou tão boa para nomes e marcas, que até pus a marca errada nas calças. Não vou corrigir, senão passo para o primeiro lugar no feed e não me apetece. Era Oisho - também NMPPI. Não dou para influencer.)

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