06/01/2019

Normal e não normal

No antro-pináculo de fast food, que também frequento a espaços a cada passos largos mais alargados - apesar de, em meu favor, alegar que apenas consumo a refeição, dita lá por eles, veggie -, encontrava-se logo ali ao lado uma família, constituída por pai, mãe e filha adolescente. As duas tagarelavam animadamente sobre não sei bem o quê, por não ter prestado atenção, um tudo-nada desconcertada com o facto de, contrariamente ao que já vai sendo habitual e visualmente poluente, não estarem agarradas aos respectivos telemóveis. O pai daquela família, calado, ausente delas, observando mais ou menos com desinteresse o redor, mãos nos bolsos, acabada que estava a refeição dele. Então, finalmente, tocou o aparelho da rapariga, que trocou algumas breves frases com a que vim a perceber ser uma interlocutora, e, ao desligar, virou-se para trás e comunicou a uma menina, não mais de nove anos, que se encontrava empoleirada num banco alto, absorta num pequeno computador colocado sobre um balcão: “Gabi, a tia manda-te os parabéns”, ao que ela respondeu, sem retirar os olhos munidos de óculos do ecrã, tão-só, tão só, “Okay”.
“Okay? Olha-me o desprezo desta!”, comentou a que talvez fosse a irmã mais velha, entre o surpreso e o divertido. 
A criança, essa, não moveu sequer uma pálpebra, concentrada que estava na comemoração dos seus nove - máximo, dez - anos.

2 comentários:

  1. Não sei se me consigo habituar a este novo paradigma. Eu própria spu ultra viciada no tlm, checando emails de trabalho em casa a cada 5 mins... ficou-me o vício dos tempos de licença de parto. Tenho que aprender a desligar e não usar em frente ao meu menino para ser o melhor exemplo, mas é difícil!

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    1. Eu não vivi essa dificuldade, pelo menos não dessa maneira, porque quando os meus nasceram ainda não havia tantos telemóveis como há hoje, e smartphones ainda menos. Mais tarde é que tive que impor a regra à mesa de não os terem nem perto. Mas vais ver que não é difícil, basta que constates que aquilo é um bloqueador de conversação. Nessa altura, nem tu o podes ver enquanto estiverem à mesa, e ele acaba por te seguir o exemplo.

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