29/11/2016

stay

Não somos nós que não os deixamos ir. São eles que não nos deixam ficar.
Cada um que se nos vai, leva um bocado de nós — verdade como punhos, cerrados e dolorosos, de murros desferidos no coração.
Chega também um dia em que, todos juntos, já levaram a nossa maior parte. E depois o todo. 
A falta que nos fazem, fazendo-a fazer-se maior cada vez que a sentimos, é maior a cada falta.
Muitas são as vezes em que me lembro de um momento específico da minha vida: grávida de seis ou quase sete meses, chorando inconsolada por um motivo fútil que me desconsolara, vi surgir o meu pai com um chocolate na mão, os olhos enormes cintilando, para me tirar de um desgosto sem jeito, como se eu fosse a mesma de sempre. Morreu-me quatro dias depois, eu deixei de ser a mesma de sempre e foi isto que guardei.