Aparece-me de robe, logo o robe, que é aquela peça de vestuário que, por preconceito fabricado na infância, me faz imediatamente rotular, mesmo sem querer, qualquer um como doido. Os doentes da minha mãe andavam sempre de robe, e nós íamos com ela visitar os internados. Por isso, durante muito tempo (até hoje?), vejo uma pessoa de robe e penso logo que tem ar de louca. Basta que o tire, para adquirir imediatamente uma aura de equilíbrio, que pode ser tão falsa quanto aquela outra que o robe lhe dá.
Mas não é o caso dele, que é lindo e louco de tão fresco, e é meu e fui eu que fiz.
Vem cheio de frio, mete-se dentro da minha cama, aninha-se em mim, e reza:
- Não quero ir para a escola.
Eu podia ser melhor conselheira, mais assertiva, menos solidária. Impedem-me o sono, a preguiça, a memória de ter a idade dele, o amor e mil e uma outras desculpas esfarrapadas deste género.
- Eu também não quero ir trabalhar.
- Deixas-me ficar aqui, a dormir até ao meio-dia?
- Meio-dia da madrugada? Isso é muito cedo. Não, vamos mas é ficar aqui todo o dia, a dormir, a ver televisão e a comer bolachas.
Ficamos calados, uns segundos, a absorver o traço perfeito de um plano tão maravilhoso. Por alguma razão, ele desconfia das minhas intenções em cumpri-lo, porque repete a ladainha:
- Não quero ir para a escola.
- Nem eu — respondo-lhe, automaticamente, sonolenta, desfocada.
- Tipo que tu tens escola — e levanta-se, reequilibrado, pronto para se livrar do robe.
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