12/04/2015

Uma pessoa que tem um blog corre riscos

Por exemplo, corre o risco de, em falando de certos temas, passar a ser odiada por fantasmas que nunca viu, nem verá.
Mas eu sou aquela que desteme porrinhas. Hoje vou falar de educação, no sentido de boas maneiras, aquele tema fracturante para as cabeças já rachadas.
Sabem aquela primeira regra de educação, a que está no top de todas, tipo o direito à vida na Constituição, que diz que não se deve falar de educação, no sentido de abordar o tema bem-educado-mal-educado, por analogia com bem-me-quer-mal-me-quer? Então, eu explico: pode falar-se de educação, livremente, para aí desde 1974. E também de mamas, rabos e cenas, tudo até ao limite do insuportável. O que é chato - mas pode fazer-se - é explicar regras de boa educação a alguém, designadamente em público. Porque a fronteira entre o que é um reparo amigável e um achincalho público está, precisamente, na existência, ou não, de plateia. Assim, por exemplo: não há muito tempo, sentei-me à mesa de Natal, em casa dos meus cunhados, e lá diz o povo que as cunhadas são unhadas, para os cunhados não sei, mas devem ser desenvergonhados, olha, que chatice, aquele passou a esbugalhado num ápice, pois ninguém o mandou abrir a boca na sua própria casa. Dizia eu que me sentei à mesa, aguardei que a mulher dele (a tal que só bebe sumos de laranja, ai que pureza) começasse a comer a sopinha, e vai de lançar a manita à colher, para iniciar as hostilidades nataleiras ao nível sopeiral. Foi quando ele me dirigiu, à frente de todos os comensais, que, infelizmente - para ele - incluíam os filhos dele (e digo infelizmente, porque, vá, ele já me conhece há anos suficientes para saber que daqui nunca sai coisa boa, embora sempre certa) a seguinte bordoadinha: "Olha, eu não sei se tu sabes que a regra de boa educação diz que as pessoas devem esperar que a pessoa mais velha da mesa comece a comer, e a minha sogra ainda não começou". Vos garanto que até me excitei. Eu sou assim, por tudo e por nada, fico nos cascos, pronta para a farra. Ora bem, cunhado, queres lide? Então, cá vai: "Olha, e tu, não sei se sabes que a primeira regra de educação, desses manuais que tu compras para ler e não lês, mas que a mim me correm nas veias, diz que não se deve chamar a atenção a ninguém acerca da sua educação. Assim, como o fizeste, deixa-me que te explique que o que a regra diz é que deves esperar que a dona da casa inicie a refeição, e a tua mulher já começou a comer. Além do que tu estás na tua casa, parece-me francamente estranho que estejas a dar lições de boa educação a um dos teus convidados. Por último, um conselho, totalmente de graça: perdeste uma excelente oportunidade de ficar calado, designadamente à frente dos teus filhos, porque hoje é Natal. Feliz Natal para ti também".
Heh, não posso dizer que esmerdei o ambiente da ceia, mas lá que dei um agito e aquilo animou para cornos, sem dúvida.
Ora bem, fale-se de educação à vontade.
Fale-se de dinheiro!
Ai, Jesus, que a palavra dinheiro é proibida! Quem fala de dinheiro são os patos-bravos, quá-quá-quá!
Não, pá, não são. Eu falo de dinheiro e não sou pata-brava. Tomara eu ser. Eu nasci para o luxo, para o BMW branco, o brinco de diamante, a estereofonia aos berros a tocar Ai destino, ai destino!, o palito no dente e o arroto sentido. Cá agora estas mesuras de senhorinha, que frete!
E digo, amiúde, "Não tenho dinheiro". Aliás, deve haver quem pense que a frase são apelidos meus.
Quanto ao resto das regras de etiqueta, olhem, nem me alongo. Já sou demasiado antiga para aturar franganitos que não só não me abrem a porta do café, como também esperam que eu a abra, passam e não agradecem. E para não reparar quando um ele se senta primeiro que eu à mesa do restaurante. Que é que querem? Não almocem nem jantem comigo, que é um sossego. Eu é que já não mudo.
Cá beijinha à tia.

31 comentários:

  1. Cara Linda,
    Uma das "regras de boa educação" que prefiro é a de tratar pais e filhos por "você ". Um must.
    Beijos,
    Outro Ente.

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    1. Caro Outro Ente,
      Essa, então, adoro. Este meu cunhado pratica-a, e inclui nesse "você" a própria mulher.
      Eu, que sou uma doce parola, questiono-me como é que se processa a intimidade destes casais. Imagino frases do mais extasiado que possa haver.
      Devo ter um desvio.
      Beijos,
      Linda Porca.

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    2. Mais ou menos como quando alguém diz "passe-me o sal, por favor", esse pessoal na cama deve dizer "querida, passe-me a vagina, por favor, sim?" :P

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    3. Tal e qual! :D
      "Olhe, agora ponha, olhe, agora tire, ai que enfado, espere lá, agora dê-me duas nalgadas, agora ponha-se lá de franguinho no espeto, agora não me exiba o pénxx, que estou intranquila, olhe, vire-se", and so on.

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  2. já te respondi pila murcha!!!!
    http://esteblogntemnome.blogspot.pt/2015/04/domingo-vai-malta-passear-e-eu-perco.html

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    1. Eu sou a pila murcha, esgrouviada?
      Tá. Obrigada. Não sei mais o que dizer. Nunca ninguém me tinha chamado pila murcha. O mais perto que haviam chegado foi "grandas tomates, pá" (o é importante, prucósa da ênfase).
      Beijos,
      Pila Murcha.

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    2. Anónimo12/4/15

      Pila murcha, "grandas" tomates...estou mesmo a ver o que vai por aí. Faz-me lembrar um conhecido meu que andou a namorar com "uma brasileira" que só gostava de fazer sexo anal. "Ela" devia rapidamente aceitar fazer sexo anal com o ET.
      E afinal de contas a imaginação conta muito...todos nós quisemos acreditar um dia que o ET existiu mesmo, ele queria acreditar que a namorada era uma mulher.

      Beijos

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    3. Tu hoje já tomaste as gotas, Todo Nu?
      :P

      Beijos

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    4. Anónimo12/4/15

      Acabaram, agora só amanhã é que compro :-P

      Beijos

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  3. E usar a colherinha da sopa, assim bem cheia, como catapulta, mirando a boca de quem falou? É considerada falta de educação também? Acrescentava-se uma nova alternativa ao dizer "entra mosca ou sai asneira"... assim entrava sopa, sempre fazia melhor, digo eu ;)
    (Este assunto recordou-me uma situação que vivi aqui há uns dias, e como sou mansa fiquei calada. Enfim, para a próxima talvez corra melhor, ou pior, depende do ponto de vista. Mas ainda posso escrever qualquer coisa sobre ela, para aliviar)

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    1. Tu és só boas ideias? Ó mulher, eu vou mas é passar a seguir-te, como um perdigueiro! :)
      (Isso adquire-se com os anos. É a chamada incontinência verbal balzaquiana - inventei eu, não é lindo? :))

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    2. Ahaha, isso das boas ideias depende, mas tenho dias que consigo ser uma verdadeira "idiota", sim ;) Agora estou só aqui a tremer com o prazer e a responsabilidade de ter uma seguidora deste calibre!
      (Também concordo que isto vai refinando com a idade... e incontinência verbal balzaquiana soa muito bem :))

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    3. O meu calibre é de perdigueira, ando sempre a farejar boas ideias :)
      (Vai, tem calma :))

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  4. Que maravilha! O que eu adorava passar o natal contigo! Então eu que tenho umas boas para dizer ao meu cunhado!
    O que se aprende em lendo blogs (de gente educada).

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    1. Combinamos isso, os meus Natais andam a ficar muito chatos. Preciso de uma movidazinha.
      Vês? Já não vais daqui igual ao que vieste.

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    2. Pois não, e nem saí aqui do mesmo lugar. A minha teoria sempre se comprova. Hum?

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    3. Qual delas, rapariga? Tu és uma opinion maker!

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  5. Espírito natalício em alta!!

    Bem que podias ter passado o resto da refeição a mastigar de boca aberta!!! :p

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    1. E a falar, enquanto mastigava, desfiando as regras de etiqueta todas do manual do cunhado, aos altos gritos! Isso é que era o pleno, nem sei como não me ocorreu :P
      A chamar velha à sogra (às minhas custas), o pinante...

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    2. E sorver a sopa!!!

      Coisa para me deixar com os nervos em franja...

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    3. Que bonito.
      :P
      E chuchar nos dentes, no final? Mmm, que amoooor...

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    4. Olhe, Linda Porca, você e o seu blog fazem-me dar gargalhadas.
      Cá beijinho.

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    5. É para isso que nós existimos, meu buraco e eu.
      Cá outro, Doce menina.

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  6. Pergunto-me se o dito cunhado terá seguido os preceitos lavrados por Arthur Martine, no sua inestimável Martine's Hand-book of Etiquette and Guide to True Politeness:

    However, let us go to dinner, and I will soon tell you whether you are a well-bred man or not; and here let me premise that what is good manners for a small dinner is good manners for a large one, and vice versa. Now, the first thing you do is to sit down. Stop, sir! pray do not cram yourself into the table in that way; no, nor sit a yard from it, like that. How graceless, inconvenient, and in the way of conversation! Why, dear me! you are positively putting your elbows on the table, and now you have got your hands fumbling about with the spoons and forks, and now you are nearly knocking my new hock glasses over. Can't you take your hands down, sir? Didn't you, learn that in the nursery? Didn't your mamma say to you, "Never put your hands above the table except to carve or eat?" Oh! but come, no nonsense, sit up, if you please. I can't have your fine head of hair forming a side dish on my table; you must not bury your face in the plate; you came to show it, and it ought to be alive. Well, but there is no occasion to throw your head back like that, you look like an alderman, sir, after dinner. Pray, don't lounge in that sleepy way. You are here to eat, drink, and be merry. You can sleep when you get home.

    Todo um tratado :)

    Boa noite, LP.

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    1. Uma pessoa que conhece as boas maneiras com aquele rigor, certamente leu, no original, Arthur Martine, com o desvelo e o embevecimento de um verdadeiro cavalheiro.

      Não fossem as desavenças mentais que eu tenho com a figura, a cada ó xôtor e a cada ó xô Rocha (para os empregados de mesa), e até poria a hipótese de ser verdade o que escrevi acima.
      Sou uma delirante, no fundo :)

      Boa noite, Xilre.

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  7. Anónimo13/4/15

    cunhadas e Natais? não combinam. Devo à farmácia e a algum psiquiatra que me queira ouvir, horrores de horas de desabafos histéricos.
    Muito boa semana, cara LP.
    Beijinhos (será que posso deixar, ou espero que uma pessoa mais velha o faça primeiro?)

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    1. Isto só lá vai mudando de fé. As restantes soluções possíveis não me agradam na totalidade, e também não posso dar estricnina a tomar aos cunhados, que ainda vou parar ao CMtv :)
      Muito boa semana também, Mia. Já aí vem o sol!
      Beijinhos, claro, mi casa es tu casa :*

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  8. Bom dia ,L P .
    Que tratado !
    Muito bem, L P !
    Acho que te portaste muito bem ...situações difíceis de suportar/tolerar.
    Eu costumo ( nessas situações,se provocado) ajavardar, mas Natal é Natal.
    Há que saber controlar.
    " Gente coisa é outra Fina ",e franganitos/tenrinhos a darem lições de boa educação-esquece !
    Esta vida é muito difícil ,odeio quando começam a armar ao pingarelho.
    Família é família,Natal é Natal,palermas são /serão sempre palermas.
    Mas que faz nervos, faz !
    E a tua irmã ? Caladita ?
    Poderias ter proposto um brinde familiar no final da refeição e no tchim-tchim com o dito , acabarares sem querer ...a entornar-lhe um pouco de liquido na camisa e talvez até na carpete. :)
    Pedias posteriormente desculpa,claro.Até irias ajudar na posterior limpeza dos danos com água quente (ferver ).
    Beijo,
    José

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    1. A minha irmã, não, a minha cunhada...
      Beijo,
      LP

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  9. Então li mal !
    Pior,muito pior ainda !
    Insuportável !
    Pobre L P.!

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