09/11/2014

Diálogos à sombra # 2

Somos parentes demasiado próximas para termos conversas de calças, mas não somos irmãs. Liga-nos também a amizade, doa a quem doer. Só não somos melhores amigas, porque isso é mesmo impossível.

Ela: Hoje vi o sem-abrigo mais estiloso do mundo.

LP: Como assim, estiloso?

Ela: Olha, de calções de ganga, super-justos.

LP: Era gay?

Ela: Não, era paneleiro. 

[aqui rimo-nos até às lágrimas, paradas num semáforo vermelho. Eu de cabeça pousada no volante, pesam-me os cornos quando asfixio de riso]

LP: Mas olha lá, os dois conceitos podem andar juntos? Sem-abrigo e paneleiro?

Ela: Claro que podem, ele é a prova.

LP: Eu vi o taxista mais estiloso do mundo outro dia.

Ela: Um taxista?

LP: Um taxista. E só percebi que era taxista porque estava na praça. A bater os tapetes contra a parede. Ai, que braços...

Ela: Mas como assim?

LP: Assim, perfeito. Lindo. Ainda bem que nunca apanhei o táxi dele. Toldava-se-me o raciocínio e esquecia-me do destino.

Ela: Tipo Ryan Gosling?

LP: Tipo.

Ela: Mas olha lá, os dois conceitos podem andar juntos? Taxista e todo-bom?

LP: Claro que podem, ele é a prova.

E ficámos as duas, paradas no semáforo vermelho seguinte, de lágrimas nos olhos outra vez, numa muda oração de agradecimento aos céus. Porque eles existem.

Hallelujah, irmãs.

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