A vida acerta-se a outro ritmo. Como diz a minha amiga Pat, "reajusta-se". Desde aquele mail Já não fazes cá falta até
hoje, basicamente o que mudou foi a perspectiva ocular corredor do
supermercado-caixa. Entre a última peça que entra no carrinho e a chegada à
caixa, passei a fazer mais contas de cabeça, o que só ajuda a estimular o
cérebro, afastando o Alzheimer mais uns anitos. Vejo o copo meio cheio na
mesma. Já não ando de metro, todos os dias, duas vezes, meia-hora de cada vez, 12
estações, mil pessoas a invadirem o meu espaço, eu a invadir o espaço de mil
pessoas. Já não entro à porta com o coração num susto, a tentar adivinhar se hoje
ela está com a macaca e grita por tudo e por nada, ou se vai ser só mais um dia
em que se fecha na sala dela e mais vale ignorar que ela existe, numa espécie de
moeda de troca. Já era assim há um ano, uma cena tão tóxica que o simples acto de
almoçar tinha que ser bem equacionado, não fosse coincidir com alguma hora em que
ela estivesse na área, doida para acabar alguma merda que não pudesse esperar
dez minutos, ou saísse a correr e batesse e com a porta sem que ninguém percebesse
por que é que a porta tinha que pagar tanto mau humor. Já não espero pelo sábado
como um náufrago à procura da praia. Já não chego a casa de noite, muitas horas para lá do horário, incapaz de fazer mais do que uma refeição, depenicá-la
e afundar-me na cama. Só tenho pena pela minha mula preferida. Andava há um ano a dizer-lhe a mesma coisa: Só tu me prendes aqui. Agora, já nem isso.
E estou muito mais feliz.
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