Tinha mesmo que lá ir ontem. Havia um evento muito importante, ao qual não podia faltar, nem que chovessem picaretas, canivetes, cats and dogs. Este ano, ano de todas as surpresas e fugas à regra, não vai chover durante a Feira, apostamos um jantar? Diz que Feira do Livro sem chuva não é Feira, mas olha, este ano não há. Uma ventania de arrancar os dentes pela raiz, mas lá chuva é que nada. Não sei como é que ainda não começaram a voar livros e o céu não se fez de papel com letras. (Ai, que imagem tão blogger, vou já registar.)
Não só não há chuva, como também não há mapas da Feira propriamente dita — nem desdobráveis, que uma mulher que se preze não sabe ler, nem em forma de cartaz (pelo menos, em número suficiente, tipo um a cada dois metros). Ou melhor, há uns mapas, mas apenas dizem onde se come, onde se bebe, onde se defeca e onde se muda a fralda à petizada.
Também não há balcão de informações, ou então está muito bem camuflado sob as ervas. A pessoa adentra-se no recinto e, se se perde, está irremediavelmente desaparecida do Mundo para quase todo o sempre, tipo Deserto do Kalahari. Assim estive eu ontem, por cerca de meia-hora. (E foi um sarilho tão grande sair do labirinto humano-barraqueiro e ser encontrada por quem eu procurava, que está decidido que, para a próxima, vou de tocha na cabeça.) Se vai à procura de uma editora, não sabendo muito bem (nem muito mal, na verdade) onde é que ela se encontra, primeiramente é sugada pela compacta multidão que sobe e que desce o Parque a passo de funeral, incluindo carrinhos de bebé e crianças dos mais variados tamanhos pela mão. Procura a dita editora, sob o sol a pino entranhando-se-lhe pelas vistas, indecisa entre tentar ler as mensagens que chegam a chico-smart a cor-de-rosa | Onde estás? | Estás no lado oposto da Feira | Eu disse-te lado esquerdo |, ou meter os óculos de sol pela cara afora, evitando cegar de excesso solar ou de raiva incontida. Vê uma placa a indicar "Informações", cuja direcção vai dar a nada [I'm on the road to nowhere], e pondera desistir de tudo e tornar-se sem-abrigo.
Também não vi um único encarregado-funcionário-nadador-salvador de apoio aos perdidos e não achados (como o ser humano que ora digita), para uma pessoa pedir socorro-acudam-ó-da-guarda, ou então guinchar que está perdida.
E, nas diversas barracas, ninguém sabe onde fica o que procuramos, provavelmente porque também não sabe onde está.
Igualmente, não há casas-de-banho em número suficiente: do lado esquerdo de quem desce, há apenas uma, junto ao Marquês de Pombal, o que torna a aflição algo de maisagudo épico trágico, caso se tenha entrado pelo alto do Parque. É correr, minha gente, é fazer pela vida, preferencialmente por detrás das barracas, senão já não ides a tempo, que aquilo ainda são uns bons seiscentos metros. E depois, ainda ides dar com uma filinha pirilau à porta da das senhoras. Hah, boa piada.
Outra coisa que também não há ao domingo: gente que compra livros. Ele é cerveja, ele são hambúrgueres, ele é ginja de Óbidos. Mas livros, propriamente ditos, isso já não. Vêem-se passar muito poucas pessoas com sacos na mão, a generalidade do povo simplesmente não pára nas bancas. Sabem que vão à feira, mas não sabem que vão à Feira.
Conselhos de borla: evitem o fim-de-semana; levem sapatos baixos, garrafa de água, óculos de sol, protector solar, pára-vento e, para os mais prevenidos, o guarda-chuva (por causa das picaretas). Quanto ao mapa e ao penico, pois, também não posso tudo, que eu sou só uma e vocês são muitos — que é o que eu digo aos meus filhos.
Também não há balcão de informações, ou então está muito bem camuflado sob as ervas. A pessoa adentra-se no recinto e, se se perde, está irremediavelmente desaparecida do Mundo para quase todo o sempre, tipo Deserto do Kalahari. Assim estive eu ontem, por cerca de meia-hora. (E foi um sarilho tão grande sair do labirinto humano-barraqueiro e ser encontrada por quem eu procurava, que está decidido que, para a próxima, vou de tocha na cabeça.) Se vai à procura de uma editora, não sabendo muito bem (nem muito mal, na verdade) onde é que ela se encontra, primeiramente é sugada pela compacta multidão que sobe e que desce o Parque a passo de funeral, incluindo carrinhos de bebé e crianças dos mais variados tamanhos pela mão. Procura a dita editora, sob o sol a pino entranhando-se-lhe pelas vistas, indecisa entre tentar ler as mensagens que chegam a chico-smart a cor-de-rosa | Onde estás? | Estás no lado oposto da Feira | Eu disse-te lado esquerdo |, ou meter os óculos de sol pela cara afora, evitando cegar de excesso solar ou de raiva incontida. Vê uma placa a indicar "Informações", cuja direcção vai dar a nada [I'm on the road to nowhere], e pondera desistir de tudo e tornar-se sem-abrigo.
Também não vi um único encarregado-funcionário-nadador-salvador de apoio aos perdidos e não achados (como o ser humano que ora digita), para uma pessoa pedir socorro-acudam-ó-da-guarda, ou então guinchar que está perdida.
E, nas diversas barracas, ninguém sabe onde fica o que procuramos, provavelmente porque também não sabe onde está.
Igualmente, não há casas-de-banho em número suficiente: do lado esquerdo de quem desce, há apenas uma, junto ao Marquês de Pombal, o que torna a aflição algo de mais
Outra coisa que também não há ao domingo: gente que compra livros. Ele é cerveja, ele são hambúrgueres, ele é ginja de Óbidos. Mas livros, propriamente ditos, isso já não. Vêem-se passar muito poucas pessoas com sacos na mão, a generalidade do povo simplesmente não pára nas bancas. Sabem que vão à feira, mas não sabem que vão à Feira.
Conselhos de borla: evitem o fim-de-semana; levem sapatos baixos, garrafa de água, óculos de sol, protector solar, pára-vento e, para os mais prevenidos, o guarda-chuva (por causa das picaretas). Quanto ao mapa e ao penico, pois, também não posso tudo, que eu sou só uma e vocês são muitos — que é o que eu digo aos meus filhos.
:)))
ResponderEliminarminha querida, o dinheiro não dá pra tudo, os livros estão pela hora da morte, e uma cerveja em dia acalorado, consola mais que páginas inteiras cheias de letras. seria de considerar abrir mais espaço, até para a barraca das pipocas e o algodão doce- afinal, sempre é uma feira. seria melhor deixarem-se disso, de terem lugares onde se acolhem lombadas a torto e a direito. é um exagero.
um beijinho, e boa semana.
Mia
É verdade, Mia, mas então, se o dinheiro não estica, por que não se reservam para outras feiras? Por exemplo, a Feira da Luz, que tem tachos, colheres de pau, brinquedos, túnicas e até uma gastronomia mais rica (entrecosto, sardinhas, frango, e a bela da maçã do amor)? Já desamparavam a loja e já eram mais felizes noutro lugar, onde não tivessem que fazer elíptica inclinação 16... :)
EliminarBoa semana também :)
Beijinhos
é possível que seja o local ideal, para passear a possidonite em todo o seu esplendor!
EliminarIsso qualquer local serve, em existindo a tal possidonite :)
EliminarCurioso eu tenho um mapa que consegui no balcão de informações. Logo à entrada, entrando pelo Marquês, há uma barreca verde-mar (ou será azul-esverdeado?) que diz "INFORMAÇÕES". Não têm lista dos livros do dia, o que acho uma pena, mas têm mapas e marcadores de livros.
ResponderEliminarDe resto a vida está cara e os livros não têm os descontos que poderiam ter. De qualquer forma vi imensa gente com sacos. Eu até apanhei um saco de pano e borla! E ia deixando lá a alma e o cartão de crédito. :D
Mas sim, é um sítio fixe para ir durante a semana, quando todos os comuns mortais estão a trabalhar.
E o mapa diz as editoras? Eu estive com um na mão, e lá a barracada dos comes e bebes estava toda, mas as editoras não... então não é uma feira de livros? Baralham-me.
EliminarEu acho que ontem à tarde apanhei a crème de la crème :D
E à noite, em qualquer dia, quando (idealmente) as crianças já estão a dormir...
Sim! Tem identificadas as editoras por letras e números e depois está a lista completa na parte de trás do mapa. Mas são letras pequeninas! XD
EliminarComo as daqueles contratos que nos empenham até à sétima geração, mas que teimamos assinar sem ler!? :D
EliminarOrganização ou falta dela...
ResponderEliminarNão posso ir a Feiras do Livro, quero tudo, quero tudo!
Acabo por dar voltas e voltas e chego à conclusão que não trouxe o que realmente queria. :/
Eu tenho que ir bem focada no que quero, e depois só ir aos stands de livros baratos e em segunda mão (nada de alfarrabistas, que me escalpam, a mim e a toda a gente).
EliminarSe não encontro, tento sair da Feira, para não comprar livros que nunca vou abrir :)
Tema proibido !
ResponderEliminarFeira do Livro ????
Na minha última ida ,cruzei-me com o Aníbal Silva + Maria ( e sua comitiva de 10 guarda costas )- ambos de saco plástico com uns livros.
Horrível,degradante ! Muito calor ,plano muito inclinado e rematei com uma fartura + água ... Insucesso total , enjoo para 15 dias.
Um horror !!!
Korror!
EliminarUma pessoa tem que ir como se fosse para a praia. Ou para a Expo 98.
Gosto bastante de ler e de comprar livros mas confesso que já não vou à Feira do Livro com o mesmo prazer de antigamente. Este ano ainda não fui e provavelmente não irei.Cansa-me, tenho calor, aborrece-me as barraquinhas com as comidas e o monte de pessoas para cima e para baixo. Prefiro ir a uma livraria, calma , tranquila e sem comida.Enfim, estou velha.
ResponderEliminarQuanto a mapa da feira, no site da feira é possível pesquisar onde estão as editoras que queremos visitar.
Ana, acho que fui no pior dia da semana, à pior hora. E já ia na segunda vez este ano. O calor e a multidão cegaram-me completamente. Ainda lá volto, só mesmo para completar a minha Baby Blues, e talvez me deixe envelhecer depois disso :)
EliminarOu para o ano logo se vê...