22/06/2017

Eu tenho problemas com médicos # 26

Fui ao dentista. Vergonhosa mas orgulhosamente, só vou uma vez por ano. Mentira, nem isso. Não preciso, nasci com dentes saudáveis, não há nada a fazer contra esta cruz, nem mastigando pedras, nem mastigando vidro (por acaso, nunca tentei). Desta vez, tinha uma prata — que eu ainda sou do tempo das amálgamas de prata (essas, sim, cheias de mercúrio, poluentes e sabe-se lá que mais outros perigos para a saúde pública em geral e para a do ser humano em particular) — rachada, que o dentista dos olhos bonitos achou por bem consertar, qual escultor, qual pedreiro. Para tanto, teve que me anestesiar a boca do lado esquerdo. O processo não foi minimamente doloroso, não fora o facto de me ter obrigado a ficar de boca aberta durante uma hora, o que me desmoeu o maxilar e por um nico não saí para a rua a parecer uma daquelas bonecas, só me faltavam mesmo os bracinhos no ar. No entanto, tanto o meu lábio superior, como o inferior, ao nível daquele lado, paralisaram a ponto de ter deixado de saber onde andavam, sequer se os tinha, ou se os deixara ir agarrados ao drone. Porque eu sei que foi um drone que ele me meteu boca adentro, e se andou a passear na minha cabeça, brrr-drrr-zrrr-prrr. No final da viagem, sentei-me, valentíssima e anestesiada até ao cerebelo, e desabafei: "Ufffa, ffftô fafffta de fftar calada". Depois levantei-me dali, lamentei não poder sorrir como deve ser (tipo de taxa arreganhada até aos molares — e já não até aos sisos porque já não os possuo), ele disse que não se notava nada (haha, boa piada, deve estar habituado ao povo que sai dali a sorrir só com metade da cara), e vim para a rua fazer figuras tristes (finalmente), porque quis beber água pela minha garrafinha, e, de facto, com meia boca, tal só é possível se também quisermos refrescar o colinho. 

(Por acaso, hoje não me apetecia esta coisa de me rir de mim, mas saiu isto, desculpem lá.)


Sem comentários:

Enviar um comentário