22/08/2016

A doce liberdade

De abrir a porta de casa e não sair uma gata disparada escada abaixo, escada acima.
De poder ter janelas abertas sem medo de que uma das bichas saia em voo picado.
De poder andar às arrecuas sem olhar, com a certeza de que não se vai pisar uma cauda e, como brinde, quem sabe, receber uma dentada. (Sim, também utilizo a marcha-atrás sem retrovisor.)
De deixar o fio do carregador ligado à ficha, sem ter a preocupação de que uma felina vai roer a ponta onde passa, precisamente, a corrente. (Sim, sou tão incivilizada quanto isto, e sim, pago balúrdios de luz.)
De deixar a casa às escuras quando se sai à noite, sem achar que as coitadinhas vão andar a marrar com as paredes.
De não ser relevante se faz sol ou se vai chover, porque não vai uma chanfrada desatar a subir às paredes.
De poder usar o secador do cabelo sem que surja um animal assustado com o barulho, porém doido para lutar contra o fio.
De deixar o ferro a arrefecer no chão, sem receio de que haja um focinho/bigodes queimados no minuto seguinte.
De meter a roupa na máquina e poder ir buscar uma peça esquecida, deixando a porta da máquina aberta.
De abrir armários e gavetas à vontade e mantê-los abertos pelo tempo que for preciso, sabendo que não vai aparecer do nada um bicho que se instala num canto e já não sai de lá até acabar a sesta, umas dez horas depois. 
De deixar a sanita com o tampo aberto, sem pensar que, três segundos depois, uma gata se enfia inteira lá dentro. (Sim, a minha casa possui sanita.)

O amargo que foi a primeira viagem sem a Mel, que viajava fora da gateira, à janela, a ver a paisagem, ou a dormir num colo. 
O amargo que ainda é ter toda esta doce liberdade.

5 comentários:

  1. Quando estou de férias abro sempre a porta com cuidado e devagar para os gatos não saírem. Mas eles ficaram em Lisboa....
    E compreendo a liberdade de deixar as janelas abertas sem medo que eles caiam, de por a máquina da roupa a trabalhar sem me certificar primeiro, onde eles estão, etc...

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    1. Uma pessoa está tão condicionada que só percebe isso quando eles não estão.
      Até me esqueci das idas à varanda, em que verificamos, no regresso, se elas estão dentro de casa...

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  2. Nossa!
    Subitamente ter um gato parece terrivelmente castrador!

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  3. Não será uma questão de se educarem os gatos?
    Eu nunca tive mas convivi com alguns na casa dos meus avós e nunca eles fizeram metade do indicado.
    No máximo a varanda (fechada) era um problema, porque eles gostavam de ficar à janela (aberta) e podia pular para a outra, como gostavam de fazer, e nisso cair. Mas das vezes que cá veio parar a baixo, nunca sequer se magoou. Os gatos têm aquela capacidade extraordinária e felina para o salto. Agora meter-se na máquina da roupa, roer cabos, etc. Isso nunca. Nenhum.

    A maior indisciplina era quando urinava onde não devia... Onde o fizesse, o que era raro, estava estragado. Por mais que se lavasse e desinfectasse o fedor não desaparecia. Foi preciso disciplinar.

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