10/08/2016

Quando tudo te grita 'Não saias de casa!' # 3

Vamos supor que isto se deu com outra pessoa humana. É preferível, para o bem de todos.
O café que a pessoa frequenta, para ir à bica, fechou para férias das pessoas.
Então, a pessoa passou, por estes dias, a ir a outro, porque lá sem bica é que não. Até se lhe turvam as fossas nasais. 
A primeira incursão já não tinha corrido lá muito bem, visto que a inconveniência chegou à minha casa e montou acampamento. Estava sinceramente descansada na esplanada, ainda nem a beberagem iniciara, e já uma das minhas companhias tinha proferido uma frase que eu não vou aqui repetir, mas que o empregado ouviu claramente e me deixou sei lá a pensar em quê, quanto mais a ele. Digamos que era caso para não voltar lá, mas arre égua que a teimosia também acampou lá para as bandas da inconveniência, e vai de insistir.
Foi tudo muito simples e muito rápido: o mesmo empregado acerca-se, a pessoa está a iniciar uma frase, e deslarga-se de lá, vindo juro que desconheço de onde — palpita-me que da boca do estômago, ou da boca do inferno, mas que me saiu pela boca afora, não hajam cá dúvidas, ainda ventilando um pouco ambas as narinas —, um arroto.
Um arroto. Sonoro.
Daqueles arrotos irreprimíveis, que se esticam ao longo de uma palavra e aproveitam quando as pessoas estão, precisamente, de boca aberta, em plena vogal aberta, a dizer uma alarvidade do género "Hoje não está [prrrrááááá] tanto calor como ontem... ai, que me saiu um arroto". Foi o pânico mental, o enxovalho social, o descrédito público. Lançadas as duas mãos à cabeça, que me cobrissem os olhos e a vergonha (não confundir com as vergonhas, que essas, ao menos essas, estavam tapadas), ainda me ouvi dizer baixinho "Ai, que horror. Antes um peido". 
Mas eu sou uma senhora, lá está. O ar, mesmo o ruidoso, só me sai por cima. Uma lady, não necessariamente na mesa.
Amanhã já vou à bica a outro estabelecimento. Diz que não há duas sem três.


Sem comentários:

Enviar um comentário