07/04/2013

Eu tenho problemas com médicos # 5

Fui ao oftalmologista há uns meses. Talvez há uns doze, mas há uns meses na mesma. Para variar, sem queixas. Toda a gente vai ao oftalmologista, eu também queria ver - ver, literalmente - como é.

Entro e sento-me na cadeira da observação, que tem as costas muito direitas. Ele senta-se à minha frente, com os joelhos a 5 centímetros dos meus. Ou a 4, não medi bem, não por falta de vista, mas porque fiquei levemente atrapalhada com o excesso de confiança. Pergunta da praxe, ao que vem, do que se queixa, eu de nada. Então...? Vim, porque toda a gente na minha idade vê mal e eu, de duas, uma: ou também vejo mal e não sei, ou vejo bem e sou anormal ocular. Todo contente, garantiu-me que era a primeira hipótese. "Tem que ver mal". Tá certo. Vê bem as letrinhas do telemóvel, quando lhe mandam uma mensagem? Sim. Vê bem as letras dos livros, sem ter que afastar um bocadinho o livro, para focar? Sim. Vê bem as letras ao longe, mesmo à noite, as das iluminações? Sim. Não, tem que ver mal, se não vê mal ao perto, vê de certeza mal ao longe. Ah, tá.

Ilumina o quadro das letras - por acaso não duvidou da minha alfabetização -, lá ao fundo, manda-me tapar um olho e pergunta-mas uma a uma. Acerto-lhas todas, até as mais pequeninas. Tapo o outro olho e o outro é tão bom como o outro. Ele ainda nada vencido, desconfiado que há ali truque. "Se vê bem ao longe, tem que ver mal ao perto", sempre a repetir a ideia abstrôncia. Mostra-me letrinhas de cábula e eu leio-lhe o conteúdo. Não desarma. Põe-me à frente da máquina para me observar os olhos por dentro. Eu e os médicos, les-yeux-dans-les-yeux, este literalmente. Olho de frente a luz que ele me aponta enquanto me penetra os olhos à vez e digo, estupidamente: "Eu tenho muita sorte". É o momento em que ele desvia a cara da armação de observação, olha para mim e diz "Se tem! Você nem sabe a sorte que tem..."

Fez-me prometer que voltava lá dali a seis meses, "só para ver se está tudo bem". Magano, achas?

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