20/04/2013

Dou de mim

Pedem-me coisas. Espetam-me nas mãos um saco à porta do supermercado, para eu encher com comida e pagar à saída. Não são do Banco Alimentar, são da Cruz Vermelha. É indiferente. Estou com um mau humor do genital masculino, que já me deu créditos para três respostas tortas a três comerciantes, ou lá como é que se chamam as pessoas que estão nas lojas e mais as gajas dos stands dos bancos, que proliferam nos shoppings. Para mim já é suficientemente penoso ir ao shopping. O ar condicionado dá-me cabo da cabeça e droga-me. Acho que metem cenas nas turbinas.

- Boa tarde. O que é que posso fazer por si?

Quem é que aborda quem nestes termos, a um balcão para comprar café? Respostas possíveis? "Um clister, sonho"; "Qualquer coisa tântrica, céu". Fonix.

- Pode ir àquela estante buscar o café que eu vim aqui comprar.

Depois:

- Não, uma 2.ª via da factura não podemos passar, o nosso sistema não permite.

Cabrão, estamos a falar de uma depiladora, e estamos na Worten, não na loja de electrodomésticos do Martim Moniz! Que culpa tenho eu de ter deitado a merda da tua factura para o lixo e agora querer uma igualzinha a dizer number two?

- Boa tarde, minha senhora. Posso saber qual é a sua profissão?

- Não - Respondi eu. Ai que estúpida, esta dava para tantas! A começar pela clássica enrabadora.

Não me apetece dar. Não gosto que me façam isto, de nem me perguntar se quero receber o saco. Já estou inscrita na base de dados internacional para dar medula há dez anos e nunca fui chamada. Em dez anos, não houve um único doente em todo o mundo que fosse compatível comigo! Quantas pessoas é que morreram de leucemia e outras degenerescências da medula no mundo? Nenhuma delas tinha um perfil genético semelhante ao meu. Cada vez que, como hoje, sei que há gente a mobilizar-se para salvar uma vida e eu já sou inútil há perto de 3650 dias, fico com assim, cadela.

Ao menos dou sangue com a regularidade que o sexo me permite (de quatro em quatro meses). Sou um bocado odiosa, hoje. Adeus.


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