07/04/2013

Eu tenho problemas com médicos # 2


O meu primeiro dentista estava apaixonado pela minha irmã, que só tem mais um ano que eu, pelo que, a ela, pôs-lhe aparelho nos dentes e a mim não. O que foi uma grande mais-valia, já que, enquanto os dentes dela, aqueles onde os arames do aparelho assentaram, se foram todos com os porcos, eu sou a tal bafejada que ainda tem 28 dentes com esta provecta idade, e só não já 32 porque os sisos tiveram que saltar fora por falta de espaço. Embora, enfim, não tenha sido isso que me tirou o juízo. O sacana do homem passava as consultas a tecer rasgados elogios à beleza dela, e ignorava-me, o que, a bem da verdade, só me incomodava porque comigo ele só tinha desejos sádicos, que me inflingiam dor, e para ela ficavam as massas a saber a pastilha e a mentol. No fundo, ele tinha razão em não me considerar bela, porque aos 11 anos eu era, de facto, um... pá, patinho feio não é bem, e é tão cliché. Era completamente sem graça, ainda não tinha chegado à puberdade e usava o cabelo à tigela. Era como sou hoje, só que de cabelo à tigela e sem mamas. Deixei crescer as duas coisas e, uns poucos anos mais tarde, já a transformação em cisne se tinha dado. O homem viu-me e exclamou "Ah, mas esta também é tão bonita! Querida, queres pôr um aparelho nos dentes?", mas eu, não sei se ainda sentida pelo anterior desprezo, disse "Não". E foi o melhor não que eu dei a alguém. Os meus dentes nunca foram ao lugar, também nunca foram muito tortos, e são tão brancos que dá gosto lambê-los, eu que o diga.


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