15/03/2017

é que hoje não me apetece ser feliz

sabes, há minutos na vida em que me tomo de um tamanho que te caibo debaixo do braço, como naquele tempo em que te punha a ti debaixo do meu.
já estivemos juntas nisto quantas vezes, tu e eu? Batas, agulhas, receitas, palpites, exames, e aquele cheiro que se nos entranha e se nos intrinseca como se saísse da nossa pele e da nossa respiração. 
já te vi no limite quantas vezes?
olha, e tu a mim, de te ver assim?
e já viste que estamos juntas naquele não saber, naquela expectativa que é uma porta blindada e, ainda assim, ou talvez por isso, estamos felizes por, ou apesar de estarmos ali?
reconhecemo-nos companheiras, sabemo-nos agarradas por aquele outro cordão que é feito de amor.
mas hoje não me está a apetecer nada ser feliz, porque de há uma semana para cá que me voltou a doer tudo até às entranhas de onde te me arrancaram, roçando o teu corpinho pelo meu coração e pela minha alma, logo ali ao lado. 
não sei como fizeste aquilo, mas foi saber-te aflita e puseste-me a conduzir a cento e cinquenta e nove quilómetros por hora, eu, que nunca tinha passado dos cento e trinta, e fizeste-me fazer a maior viagem ao volante de toda a minha vida — para te ir buscar. 
e vou mais vezes, e vou de todas as vezes que te veja de asa quebrada, pintainho. 
quero que estejamos sempre juntas, mas não ali. 
tu prometes nunca mais adoecer, e eu prometo nunca mais me apetecer não ser feliz.
está bem?